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     Nas missões onde o emprego do armamento axial se faz necessário, vários fatores influenciam no processo de decisão do comandante. Entre eles, destaca-se a seleção do perfil de tiro.

     Tendo em vista certo desconhecimento dos avanços já alcançados pela Aviação do Exército Brasileiro na utilização desse tipo de armamento, muitos paradigmas sobre os perfis de tiro foram criados e muitos deles precisam ser derrubados.

     Antes de falarmos sobre os perfis de tiro, devemos lembrar do armamento axial atualmente empregado na Aviação do Exército Brasileiro, o qual pode ser configurado com um par de metralhadoras .50 (configuração metralhadora), um par de lançadores de foguetes de 70mm (configuração foguete) ou uma peça de cada armamento (configuração mista). Esse sistema de armas possui várias possibilidades e limitações.

     Um dos óbices mais importantes desse equipamento é a falta de um mecanismo automático de estabilização e harmonização. Esse dispositivo permitiria que o armamento selecionado para emprego (lançador de foguete ou metralhadora) estivesse disponível para o lançamento ou tiro, independentemente da velocidade, da altura, do ângulo de ataque e da distância em relação ao alvo. Esses quatro últimos fatores determinam, nas aeronaves sem sistemas harmonizados, o que chamamos de perfil de tiro. Nas aeronaves da Av Ex, como a harmonização é fixa, dependemos do perfil de tiro para possibilitar ao atirador realizar sua missão em determinadas velocidades, alturas, ângulos de ataque e distâncias em relação ao alvo. A altura e velocidades são verificadas nos instrumentos da aeronave. A distância em relação ao alvo é conseguida através de um estudo prévio na carta ou por um dos outros meios de aferição de distâncias disponíveis nos manuais de topografia de campanha. O ângulo de ataque é resultado da velocidade, do deslocamento do Centro de Gravidade do helicóptero, do ângulo de mergulho e do rebatimento do visor. Logo, concluímos que um perfil de tiro é composto por uma distância em relação ao alvo, uma velocidade, uma altura, um rebatimento do visor e um ângulo de mergulho.

     Explicado o que é um perfil de tiro, vamos entender como a Aviação do Exército Brasileiro desenvolveu seus primeiros perfis de tiro com o atual sistema axial de armas. Na verdade, após um período sem realização de tiros com armamento axial por problemas técnicos, em 1998, a Av Ex retornou aos estudos para resolver as incompatibilidades existentes e voltar a realizar o tiro Ar-Terra. A HELIBRAS foi a parceira nesse empreendimento e, ao final dos trabalhos, realizou uma campanha de tiro onde foram formados atiradores e apresentados os primeiros perfis de tiro, assim discriminados:

     >> para o foguete: o rampa e o rasante;
     >> para a metralhadora: o de 600m e o de 300m.

     Dando continuidade ao estudo dos perfis de tiro, vamos apresentar e responder as perguntas que, quando inadequadamente respondidas, contribuem para formar os paradigmas que devem ser derrubados.

     - É verdade que só podemos atirar ou lançar nos perfis apresentados pela HELIBRAS?

     Não. Os perfis apresentados pela HELIBRAS e constantes no Manual do Armamento Aéreo (MAA) são apenas exemplos e visavam facilitar a vida dos nossos primeiros atiradores, pois os poupavam de ter que realizar os cálculos para a determinação dos parâmetros de tiro e lançamento. Tanto isso é verdade que, após as primeiras campanhas com o armamento HELIBRAS, os pilotos de ataque da Av Ex chegaram a algumas conclusões sobre os perfis de tiro do MAA, a saber:
     - No foguete :

     1) O perfil rampa (lançamento a 1400 ft , com velocidade de 110 a 120 Kt, distante 1000 m do alvo e com rebatimento de 50 milirad) mostrou-se pouco adequado para os empregos da Av Ex em combate. Com o aumento da experiência e após alguns estudos e testes foi criado o perfil rampa modificado (lançamento a 400 ft, com velocidade de 60 a 80 Kt, distante 800 m do alvo e com rebatimento de 45 milirad), utilizado no TIB (Tiro de Instrução Individual Básica) e em situações especiais de combate.

     2) O perfil rasante ( 400 ft, 800 m, 60 a 80 Kt, 45 milirad) é o mais apropriado para emprego em combate, principalmente por ser iniciado no vôo desenfiado.

     3) O perfil de lançamento no pairado ( 400 ft, 0 Kt, 800 m, 65 milirad) surgiu pela necessidade de se realizar o emprego do armamento partindo de uma posição coberta e em uma região ou situação que não permitisse o ganho de velocidade para a realização de outros perfis.
     - Na metralhadora :

     1) Perfil a 300 m ( 080 ft, 300 m, 110 Kt), empregado em treinamentos, especificamente no tiro de instrução básica.

     2) Perfil a 600 m ( 180 ft, 600 m, 110 Kt), empregado em treinamentos, (TIB, TIA) e em combate.

     3) Perfil de tiro no pairado (080 ou 180 ft, 300 ou 600 m, 0 Kt) surgiu pela mesma necessidade do lançamento do foguete no pairado.
     
     Após verificar as opiniões dos seus pilotos sobre os perfis prédeterminados pela HELIBRAS, a Aviação do Exército, visualizando as limitações que surgiam como conseqüência da necessidade de se adaptar o local de realização do ataque ao perfil, buscou aumentar essa gama de perfis. Desta forma, surgiram os perfis de lançamento dos foguetes, calculados nas tabelas do motor foguete, e os perfis de tiro de metralhadora, ambos adaptados às condições de combate.

     Os comandantes das missões que utilizarão foguetes poderão calcular um perfil de lançamento utilizando a tabela do motor foguete empregado. Essas tabelas são fornecidas pelo fabricante das munições e permitem que seja calculado o rebatimento do visor, utilizando-se gráficos baseados na velocidade desejada, no ângulo de mergulho e na altura e distância que o estudo do inimigo e do terreno determinar. Para esse cálculo será utilizada a seguinte fórmula:

RV = AV + VAV – EL + CP + CT +CV
RV
Rebatimento do visor
Calculado ao final da fórmula
AV
Ajuste do visor
Retirado da tabela de tiro a partir da velocidade, alcance, altura para o alvo e ângulo de ataque
VAV(1)
Variação angular da velocidade de lançamento
F (AF + EL)
EL
Ângulo de elevação do lançador
Retirado do manual técnico do lançador (para o Esquilo FENNEC = 5°)
CP(2)
Correção de paralaxe
1000h / AL
CT
Correção para temperatura do motor foguete
Retirado da tabela do fabricante
CV
Correção do efeito do vento
Componente da faixa de velocidade X fator vento
(1) VAV = f (AF + EL)
VAV
f
Fator de lançamento
Retirado da tabela do atirador
AF
Ângulo de ataque da fuselagem
Depende da velocidade e CG da aeronave
EL
Ângulo de elevação do lançador
Retirado do manual técnico do lançador
 
(2) CP = 1000h / AL
CP
h
Distância de paralaxe
Retirado do manual técnico do armamento
AL
Alcance inclinado
Tabela de tiro
 
CV = Componente da faixa de velocidade X fator vento
Componente da faixa de velocidade
Velocidade do vento X Cos direção do vento
Componente da faixa de velocidade de través
Velocidade do vento X Sen direção do vento
Fator vento
Retirado da tabela do fabricante
Fator vento de través
Retirado da tabela do fabricante
 
     Utilizando-se da fórmula acima, a Av Ex pode lançar foguetes com os lançadores atualmente adotados e com a harmonização utilizada corriqueiramente (5 graus), em uma grande gama de perfis que incluem até disparos no vôo pairado. Porém para o emprego em combate, o comandante da missão deverá dispor de tempo suficiente para estudar o terreno, o inimigo e o efeito desejado, de maneira a poder escolher os parâmetros a serem utilizados e, assim, definir o perfil.

     Devem ser calculados na carta ou verificados no terreno, por outros meios:

  • a distância da última posição no terreno que permita abrigo ou, no mínimo, coberta para as aeronaves;
  • a altura dessa posição em relação ao alvo e o espaço disponível para que os helicópteros que realizam a missão possam ganhar velocidade até atingir essa posição (de 0 kt para 110 kt, aproximadamente 1.000 m);
  • verificar o tipo de alvo e o efeito desejado.

     De posse desses dados, são utilizadas as tabelas do fabricante do foguete e calculado o rebatimento do visor.

     Caso o tempo disponível não seja suficiente para esse estudo, o comandante poderá escolher um dos perfis já calculados (perfis fornecidos pela HELIBRAS e suas variantes). Como conseqüência dessa decisão, deverá selecionar um local do terreno que forneça as melhores posições para o emprego desses perfis.

     Para o tiro com a metralhadora, o atirador poderá escolher um dos perfis já planejados. Porém, o piloto deve ter em mente que, quando em combate, a partir do momento em que ele ultrapassar a última posição coberta e abrigada, ele deve iniciar os disparos, visando fixar o inimigo. À medida que se aproximar do alvo, a precisão aumentará e o atirador deverá aproveitar o rastro dos projéteis traçantes para corrigir o tiro.
    
     Do exposto vemos que o melhor perfil seria o a 600 m em movimento ou no pairado (caso o terreno não permita a corrida), com o início dos disparos ao romper a linha de partida e não apenas a 600 m. Essa técnica de ataque será treinada no Tiro Individual Avançado e nos Tiros de Combate Básico e Avançado.
     A seguir, apresentamos um resumo dos perfis pré-calculados empregados na Av Ex:

                                                                                                                                                           
TIRO DE FOGUETE
PERFIL
INICIAL
POSTIRO
RAMPA

H= 1550Ft (520m)
D=1300 m
V= 90 Kt
Visor= 50`(RKT)

H= 1400Ft (470m)
D= 1000 m
V= 110 a 120 Kt
Visor= 50`(RKT)
RASANTE
*H= 500Ft (170m)
*D=1000 m
*V= 60 Kt
Visor= 45`(RKT)
H= 400Ft (130m)
D=800 m
V= 60 a 80 Kt
Visor= 45`(RKT)
PAIRADO
*******
H= 400Ft (130m)
D=800 m
V= 00 Kt
Visor= 65`(RKT)
RAMPA MODIFI CADA
H= 500Ft (170m)
D=1000 m
V= 60 Kt
Visor= 45`(RKT)
H= 400Ft (130m)
D=800 m
V= 60 a 80 Kt
Visor= 45`(RKT)
TIRO DE METRALHADORA .50
PERFIL
INICIAL
POSTIRO
300m
H= 160Ft (170m)
D= 600 m
V= 100 Kt
Visor= 30`(GUN)
H= 080Ft (27m)
D= 300 m
V= 110 Kt
Visor= 30`(GUN)
600m
H= 210Ft (170m)
D= 800 m
V= 100 Kt
Visor= 60`(GUN)
H= 180Ft (60m)
D= 600 m
V= 110 Kt
Visor= 60`(GUN)
PAIRADO 300m
*******
H= 080Ft (27m)
D= 300 m
V= 00 Kt
Visor= 30`(GUN)
PAIRADO 600m
*******
H= 180Ft (60m)
D= 600 m
V= 00 Kt
Visor= 60`(GUN)
 

LEGENDA

H - Diferença de Altura entre a Aeronave e o Alvo.
D - Distância no plano horizontal entre a Aeronave e o Alvo.
V - Velocidade Indicada da Aeronave.

     Visor - Posição do Visor de Tiro (Rebatimento ou distância)

     * - A Altura (H), a Distância (D) e a Velocidade (V) são após a realização da subida (balsin).

- O tiro ou o lançamento no pairado é perigoso e inviável tecnicamente?

     Não. A Aviação do Exército Brasileiro já realizou tiros e lançamentos no pairado em muitas oportunidades, o que se mostrou tecnicamente seguro. Por outro lado, quando analisado do ponto de vista da tática, surgiram limitações. No emprego da metralhadora, o perfil pairado a 600 m se mostrou viável. Porém a posição de tiro deve possibilitar uma evasiva segura, pois a aeronave está muito próxima do alvo ( 600 m) e sem a proteção da velocidade. Já no lançamento do foguete no vôo estático, o perfil derivado da HELIBRAS apresenta a vulnerabilidade de a aeronave ter que ascender a 400 ft a apenas 800 m do inimigo, expondose aos fogos das armas inimigas de tiro tenso.

     Para alcançarmos uma maior segurança tática no foguete, deveremos empregar perfis calculados nas tabelas do fabricante que aumentem as distâncias e diminuam a altura do disparo.

     - O lançamento de foguetes é uma técnica de ataque já ultrapassada, pois expõe a aeronave as armas inimigas, tendo pouca precisão e curto alcance?

     Não. Muitos exércitos ainda utilizam foguetes em combate, principalmente contra alvos de baixa blindagem, comboios logísticos, tropas, e posições defensivas organizadas ou sumariamente organizadas. O fator custo (um foguete custa cerca de US$ 300,00 enquanto um míssel ar-terra está na faixa de US$ 50.000,00 a US$ 250.000,00) e a capacidade de bater uma grande área são qualidades que mantêm o foguete como uma munição ainda eficaz no combate moderno. Vale ressaltar que os foguetes vem sofrendo modernizações que visam aumentar o alcance e a precisão dos projéteis. Em 2003, a Aviação do Exército testou, com sucesso, modelos de foguetes que permitem lançamentos em certos perfis até 4.000 m de distância do alvo. Alguns desses modelos de foguetes de maior alcance são compatíveis com o lançador atualmente em uso; outros exigem a substituição do casulo de lançamento. Se um dessas novas munições forem adotadas, basta solicitar ao fabricante as tabelas e calcular novos perfis adaptáveis às necessidades da Aviação do Exército.

     - É possível se utilizar o armamento axial no tiro noturno?

     Sim. Em 2003, a Av Ex realizou campanhas de tiro noturno sem Óculos de Visão Noturna (OVN) e, para ter sucesso, teve que alterar os perfis, baseando-se na tabela do fabricante do foguete, visando aumentar a altura de arremetida. Esses perfis serviram apenas para iniciar o processo de adoção do tiro com OVN, pois não se prestam para o emprego em combate. Já o tiro com dispositivos de visão noturna na Av Ex aguardam a adaptação dos Helicópteros de Ataque para o vôo com OVN. Todavia, contatos com a Força Aérea Brasileira, que já está em um adiantado estágio de implantação do tiro com OVN, têm auxiliado na elaboração dos perfis para o tiro e lançamento com aquele dispositivo na nossa aviação. Até os disparos realizados com o Foward Looking Infra Red (FLIR) como sistema de pontaria, fazendo uso da ferramenta da posição pré-determinada (CAGE), poderá ser realizado. Para isso, a aeronave ao ser armada deverá ter o FLIR harmonizado com o sistema de armas (foguete ou metralhadora).

     - O armamento da Av Ex permite o tiro Ar-Ar?

     Sim. As metralhadoras .50 são apropriadas para o tiro Ar-Ar a curta distância, porém, os perfis para essas missões ainda não foram treinados. Contudo, o 8º GAv da FAB possui vasta experiência que pode facilmente ser transmitida para os pilotos de ataque da Av Ex.

     Na expectativa de que este artigo ajude a derrubar paradigmas, foram apresentados argumentos que provam que o armamento axial disponível para as aeronaves da Aviação do Exército Brasileiro é viável e permite cumprir diversas missões, desde que sejam realizados os planejamentos corretos e empregados os perfis adequados.

     Os comandantes dos pelotões de ataque, quando forem cumprir suas missões, devem calcular o perfil ideal ou utilizar um dos que já estão pré-calculados.

          Associado ao aprimoramento dessas técnicas de tiro e lançamento, a Av Ex deve incrementar o emprego do OVN, a compra de foguetes de maior alcance e a implantação do tiro Ar-Ar. Tudo isso contribuirá de forma irrefutável para o aumento da eficiência e da letalidade das missões dos helicópteros de ataque.
PELA AUDÁCIA!

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