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EMPREGO DO ESQUADRÃO DE AVIAÇÃO DO EXÉRCITO NAS OPERAÇÕES DE GARANTIA DA LEI E DA ORDEM (GLO)


     GUILHERME DA SILVA SÃO LAZARO - Cap Inf
( Adj Aé do Of Operações do 1º Esqd AvEx)

     GUSTAVO GONÇALVES ROCHA - Cap Eng
(Adj Ter do Of Operações do 1º Esqd AvEx)

     LEANDRO DA FONSECA ASSUMPÇÃO - 1º Ten Eng
(Oficial de Informática do 1º Esqd AvEx)

     O nosso Exército e Aviação vêm dando ênfase ao emprego e ao adestra-mento de frações de helicópteros em áreas urbanas, nas operações da Garan-tia da Lei e da Ordem ou em Operações de Paz.

     A situação nas grandes cidades brasileiras, conturbadas pelo crime organi-zado, faz com que cresça a participação do emprego das Forças Armadas em Operações de Garantia da Lei e da Ordem em área urbana. Isto exige que a Força Terrestre esteja preparada, incluindo é claro, seu vetor aéreo. O mesmo deve estar adequadamente adestrado para ser empregado, em curto espaço de tempo, em grandes centros urbanos.

     As dificuldades que o ambiente operacional urbano impõe (fruto da existên-cia de concentrações de casas, prédios e presença de civis) que podem ser aproveitadas pelo inimigo e que restringem o vôo e o apoio de fogo, tornam mais restritivas as regras de engajamento, exigem que a doutrina e um ades-tramento específico sejam alvo da atenção de qualquer Força Terrestre que pretenda empregar adequadamente seus meios aéreos. O emprego de frações de helicópteros em área urbana, sem uma doutrina validada, será considerado inadequado e perigoso. Há que se ter definidas as possibilidades, limitações e peculiaridades em relação ao planejamento, emprego e adestramento exigidos para as tripulações. 

 
 

PRINCÍPIOS DAS AÇÕES DE GLO

     As ações de GLO abrangem o emprego da F Ter juntamente com a Aviação do Exército em variados tipos de operações e atividades em face das diversas formas com que a F Adv podem se apresentar .

     As missões que serão executadas e a variedade de situações que podem ocorrer exigem, em cada caso, um cuidadoso estudo das condicionantes do emprego da Av Ex.

 
 

CONCEITOS BÁSICOS

a. Garantia da Lei e da Ordem (GLO) - Atuação coordenada das Forças Armadas e dos órgãos de segurança pública na execução de ações e medidas provenientes de todas as expressões do poder nacional em caráter integrado e realçado na expressão militar. Tem por finalidade a garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem.
b. Segurança Integrada (Seg Intg)
- Expressão usada nos planejamentos de GLO da F Ter com o objetivo de estimular e caracterizar uma maior participação e integração de todos os setores envolvidos.
c. Ordem Pública
- Situação de tranqüilidade e normalidade que o Estado assegura , ou deve assegurar, às instituições e aos membros da sociedade, consoante às normas jurídicas legalmente estabelecidas.
d. Ordem Interna - Situação em que as instituições públicas exercem as atividades que lhe são afetas e se inter-relacionam, conforme o definido no ordenamento legal do Estado.
 
 

FUNDAMENTOS DAS AÇÕES DE GARANTIA DA LEI E DA ORDEM

1. Máximo Emprego da Inteligência.
2. Limitação do Uso da Força e das Restrições à População.
3. Máximo Emprego da Dissuasão.
4. Máximo Emprego da Comunicação Social.
5. Definição da Responsabilidade da Negociação.

 
 

AÇÕES EXECUTADAS PELA AVIAÇÃO NA GLO

1. Segurança de autoridades / eventos importantes.
2. Segurança de instalações / vias de transportes.
3. Vasculhamento de áreas.
4. Apoio às ações contra o narcotráfico e o contrabando de armas.
5. Operações contra Forças Irregulares em ambiente rural e urbano.
6. Evacuação aeromédica.
7. Plataforma de tiro, observação e comando.
8. Elemento de demonstração de força na ação de dissuasão.
9. Auxiliar no lançamento de panfletos, nas operações psicológicas.

 
 

PECULIARIEDADES DO ESQUADRÃO DE AVIAÇÃO DO EXÉRCITO NAS OP DE GLO

     Para as operações de GLO podemos observar diversas peculiaridades de emprego, dentre as quais destacamos:

1. COORDENAÇÃO E CONTROLE DO ESPAÇO AÉREO
a. Área terminal de tráfego aéreo

     A área terminal do Rio de Janeiro/São Paulo é uma das de maior tráfego aéreo do mundo. Aeronaves em vôo internacional, vôo doméstico e entre as áreas dos aeródromos do Rio de Janeiro, vôos de turismo, de reboque de fai-xas e vôos das escolas de aviação vão continuar sua rotina a despeito das operações militares que estiverem em curso.

     O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DCEA) é o órgão da Força Aérea responsável pela coordenação do tráfego aéreo.

     Para minimizar a possibilidade de conflito de tráfego aéreo e reduzir ao mínimo as mudanças na rotina de operação das aeronaves civis em um ter-minal com um tráfego tão complexo, há necessidade de estreita coordenação das operações militares com aquele órgão.

2. DISSUASÃO E DISSIMULAÇÃO
      A dissuasão tem sido importante ferramenta quanto ao seu papel, afim de evitar o uso da força para a consecução dos objetivos da operação de GLO.

     Se as F Adv forem suscetíveis à dissuasão a ponto de justificar seu em-prego com meios aéreos, as frações de helicóptero podem desempenhar essa função com consideráveis efeitos positivos para a imagem da Força na impren-sa e para a população.

     Vários exemplos de dissuasão podem ser colhidos de todas as operações de GLO. Dentre eles, o mais utilizado é realização de patrulhamento de rotas pré-definidas por aeronaves em formação e com tropas a bordo ostensivamente armadas.

     Uma formação de helicópteros com essas características já foi utilizada para dissimular o verdadeiro local de uma ação.

3. COMANDO E CONTROLE (C2)
      O comandante de qualquer peça de manobra pode conduzir sua operação de privilegiada posição, em locais de difícil acesso, com capacidade para decidir as situações de conduta nas melhores condições possíveis e com mínima inter-ferência do terreno nas comunicações.

     Verificação dos PBCE, ligações de comando, deslocamento na sua Z Aç livre do trânsito de uma cidade como a do Rio de Janeiro e a salvo de qualquer ameaça à pessoa do comandante e inúmeras outras vantagens são colhidas em uma missão de C2.

     Utilizada pelo Cmt da Op, pelos Cmt das peças de manobra e pela Polícia Militar, a missão de C2 já foi amplamente acionada e em todas as oportuni-dades trouxe grande vantagem para a operação.

     No entanto, são necessárias instruções específicas a esse respeito para a melhor utilização das frações de helicóptero em missões de C2.

4. O “OLHO DA ÁGUIA”
      Um equipamento de sensoriamento remoto (Forward Looking Infra Red – FLIR) foi instalado em uma das aeronaves da Aviação do Exército. Está sendo chamado de Olho da Águia.

     Destaca-se dentre as possibilidades do equipamento:
a. Transmissão de imagens, ao vivo, para uma central de controle;

b. captação de imagens termais, de dia ou de noite;

c. face às características das imagens termais, revelar alvos camuflados, identificar, em vôo, pessoas armadas e que tenham realizado disparos recentemente graças à temperatura diferenciada do armamento e todos os produtos advindos da análise de uma imagem termal;

d. principalmente, fornecer ao Cmt da Op valiosa ferramenta para tomada de decisão baseado nos fatos que estão sendo registrados, ao vivo, por sensoriamento remoto.

5. EMPREGO DA FORÇA DE REAÇÃO E DE FORÇAS DE CERCO
      A aeromobilidade prestada pela Aviação do Exército confere a essas forças melhores possibilidades de sucesso.

     Para que isso se concretize há necessidade de:
a. Estabelecer, previamente, planos de emprego da força de reação e da força de cerco;

b. baseado nesses planos, treinar a utilização dos meios aéreos e ensaiar o que puder ser ensaiado sem que se comprometa a surpresa;

c. caso a força de reação seja acionada para uma conduta não prevista, deixar bem claro qual a missão, o local de emprego e o local de pouso. Podem parecer aspectos considerados óbvios, mas já foi constatado que comandantes de força de reação chegaram a embarcar sua tropa sem saber para onde estavam indo ou qual sua missão após o desembarque;

d. estabelecida uma força de reação, evitar a realização de rodízio de coman-dantes ou, principalmente, de elementos que a compõem. Via de regra, o ro-dízio causa solução de continuidade na eficiência dos ensaios realizados, na compreensão da missão e até na segurança de vôo, pois soldados não adap-tados às aeronaves acabam substituindo os que já passaram por treinamento específico;

e. realizar reconhecimento prévio dos locais de desembarque, tanto dos aspec-tos técnicos quanto da segurança do desembarque face à ameaça das forças adversas.

6. ÁREAS DE DIFÍCIL ACESSO E DIFÍCIL POUSO
      Nos morros e favelas do Rio de Janeiro, são raros os locais onde se pode desembarcar de uma aeronave pousada, quanto mais de uma formação a qua-tro, três ou mesmo duas aeronaves.

     Normalmente esses locais, quando existem, estão situados no topo de um morro e, geralmente, são os chamados “raspadões”, utilizados para campo de futebol.

     O “raspadão” é um local sem vegetação onde o pouso da aeronave é feito em condições marginais de visibilidade face à poeira que o vento dos rotores provoca. Em 1994, a Força Aérea Brasileira teve um helicóptero completamente destruído devido, também, a essa limitação de visibilidade na hora do pouso.

7. INTELIGÊNCIA
      Problemas com vazamento de informações já foram observados em ope-rações anteriores. As operações militares, em GLO com envolvimento de gran-de efetivo, têm grande risco quanto ao vazamento de informações cruciais.

     Quando nas forças adversas estão presentes elementos do crime organi-zado, avulta de importância informações como o local da ação, o horário e o valor das forças envolvidas.

8. TRANSPORTE AEROMÓVEL
      O transporte aeromóvel pode ser largamente utilizado visando a evitar que o trânsito da cidade limite ou impeça o deslocamento de pessoal ou o transporte de carga vital em determinado momento.

     O transporte de autoridades também já se mostrou de grande valia.

9. EVACUAÇÃO AEROMÉDICA
      Alguns detalhes operacionais precisam ser atendidos para que uma eventual evacuação aeromédica (Ev Aem) possa ser realizada com sucesso:

a. Escolha prévia de locais de pouso para a remoção e posterior evacuação do ferido.
      Toda Z Aç de todas as peças de manobra envolvidas, na operação, devem ter locais previamente reconhecidos para Ev Aem. Costuma coincidir com a pri-meira instalação de saúde onde tiver um médico capaz de realizar a triagem do ferido e determinar se sua evacuação será por ambulância ou por meio aéreo.

b. Utilização de tela-código
     Caso seja impossível a remoção do ferido para um local de pouso pré-planejado, cresce de importância a utilização da tela código para a locali-zação do mesmo pela tripulação que estiver cumprindo missão de Ev Aem. A utilização da tela-código é a maneira mais fácil e rápida de se comunicar com uma aeronave em vôo com o objetivo de ser localizado.

c. Assistência ao ferido durante a Ev Aem
      É mandatório a presença de um médico a bordo. Esse profissional precisa ser adaptado às condições de trabalho na aeronave, precisa estar devidamente equipado para atender um ferido em um ambiente que tem um nível de ruído de 110 decibéis e não pode ter limitações orgânicas com respeito à atividade aérea. Enfim, precisa treinar para cumprir essa missão.

d. Hospitais para onde será realizada a evacuação
      No Rio de Janeiro, não há problemas de infra-estrutura hospitalar para se cumprir o previsto quanto ao atendimento a politraumatizados e queimados, leitos UTI e demais aspectos previstos no ANEXO K do PBIM. O plano de eva-cuação de feridos (onde se insere, também, o plano de evacuação aeromédica) define os locais para evacuação. Cabe observar a possibilidade do pouso de aeronave em cada um desses locais.

e. Comunicações
      O estabelecimento de uma freqüência exclusiva para a Ev Aem é impor-tante. Já ocorreram dificuldades para se estabelecer contato entre a tripulação em vôo e o local de onde o ferido seria evacuado. Essas dificuldades deram-se devido ao congestionamento, na exploração rádio, por pessoal que ficava pedindo informações sobre o acidente o tempo todo.

     Tal freqüência, de conhecimento de todos os comandantes de fração, deve ser utilizada como uma freqüência de emergência e somente para esse fim.

10. BASE DE OPERAÇÕES DA UNIDADE AÉREA
a. Características de uma B Op

O que deve ser observado na escolha de uma B Op:

- Não estar dominada por edifícios que possam abrigar observadores das F Adv ou mesmo um provável atirador;

- dispor de segurança orgânica confiável visando à proteção das aeronaves e tripulantes;

- ter espaço suficiente para manobrar considerável número de aeronaves.

11. COMUNICAÇÕES

     A Aviação do Exército precisa constar dos diversos diagramas de redes rádio e diagrama de circuitos e ser contemplada com freqüências e canais tanto para as frações de helicópteros em vôo quanto para o PC da unidade aérea (rede do comandante, de comando, logística e demais doutrinariamente previstas).

     O Of. Com da Op, observados os meios existentes, deve prever possibili-dade de ligação com todos os envolvidos na Op, inclusive elementos da Polícia Militar ou Polícia Federal.

     Em operações de GLO, o emprego de telefones celulares é muito eficaz. O Of. Lig Av Ex, o controlador de vôo que estiver junto ao DCEA da Força Aérea, o Cmt da U Ae e o pessoal chave do EM e das peças de manobra da sua uni-dade devem ser contemplados com telefones celulares. Como base de cálculo, a mesma quantidade de celulares disponibilizados para as demais tropas valor unidade devem ser disponibilizadas para a U Ae.

12. OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS

     Uma das missões doutrinárias da Av Ex é o Lançamento Aéreo (L Ae). Em Palmas/Tocantins, no ano de 2001, ocorreu o emprego de aeronaves para a realização de panfletagem em um contexto de comunicação social/operações psicológicas.

     Nesse mesmo contexto, há que se considerar, também, a possibilidade de se utilizar imagens do “Olho da águia”(termais, diurnas ou noturnas) como ferramenta de dissuasão se assim for avaliada como proveitosa.

13. CONTINUIDADE DAS OPERAÇÕES

     Uma preocupação importante é garantir a transmissão de ordens entre os elementos substitutos e substituídos. A não observação dessa preocupação resulta em perda da continuidade das rotinas e a conseqüente diminuição da eficiência das ações.

14. AS AERONAVES DA IMPRENSA

     Grande número de órgãos da imprensa possuem aeronaves para cobertura de reportagem. O conflito de tráfego aéreo e a real possibilidade de interferência nas operações aéreas são incontestáveis.

a. Proibição do uso do espaço aéreo por parte da imprensa
     Tal medida só pode ser adotada com a expedição de NOTAM pela Força Aérea Brasileira.

b. Cobertura de reportagem realizada com aeronaves do Exército
      Elementos pré-selecionados da imprensa podem ser autorizados a utilizar aeronaves do EB para cobertura de reportagem. Quanto ao aspecto operacional, fica garantida a segurança das operações.

 
 

CONCLUSÃO

     O estudo das operações que envolveram o emprego de helicópteros, no ambiente operacional urbano, mostrou-nos que a participação dos mesmos foi decisiva para o cumprimento da missão.

     Fazendo uma avaliação de que missões poderiam ser cumpridas em cada quadro que se vivia (operações convencionais, de garantia da lei e da ordem ou de imposição da paz), conclui-se que as mesmas se repetiram, independente da situação. O mesmo ocorreu com as técnicas, táticas e procedimentos utili-zados; e até mesmo com as necessidades para o planejamento. As nuances ficaram por conta do tipo de terreno urbano e das possibilidades e atitudes do inimigo ou da força adversa que se apresentou.

     A sincronização das ações e a perfeita integração entre a manobra de terra e a manobra aérea mostraram ser extremamente importantes em terreno ur-bano.

     Não deve ser negligenciado o levantamento das possibilidades do inimigo, integradas ao terreno urbano, bem como não se deve deixar de considerar sua linha de ação mais perigosa, para cada missão que tenha que ser cumprida.

     As condições de combate podem variar muito rapidamente dentro de uma cidade. O cumprimento de uma missão, em área urbana, pode levar tripulações a vivenciarem diferentes situações a cada prédio ou a cada rua sobrevoada. Apenas um planejamento baseado em um estudo de inteligência detalhado e o perfeito entendimento da intenção do comandante permitirão que essas tripu-lações decidam com acerto e oportunidade.

 

 

Projeto Olhos da Águia
Sistema de aquisição de imagem e transmissão em tempo real via satélite.
Emprega uma aeronave HA-1 com equipamento de aquisição e transmissão e
estação terrestre móvel com "link" via satélite.
FLIR
Imagens termais adquiridas pelo sistema olho da águia revelando informações
adicionais (ocultos a olho nu), evidenciadas pela emissão de calor dos corpos
que compõem o cenário. Como podemos observar nas fotos acima, o carro estava
ligado e havia rodado recentemente (coloração mais clara do motor e dos pneus
decorrente da maior emissão de calor por esses corpos) e a arma pode ser
facilmente localizada, mesmo na ausência de luz, pelos acentuados contrastes
entre ela e o fundo.
 
 
                            GLO RURAL

     Num quadro de operações de garantia da
lei e da ordem a Aviação do Exército pode ser empregada também, em ações cívico-sociais (ACISO), levando às populações mais caren-tes apoio de saúde, suprimentos de primeira necessidade, medicamentos e outros.
              OPERAÇÃO MANDACARU

     Exfiltração de elementos em missões especiais com helicóptero, proporcionando maior dinamismo, segurança e flexibilidade às operações.
 
 
OPERAÇÃO MANDACARU
Aeronave HM-1 realizando patrulhamento em áreas rurais de difícil acesso.
Patrulhamento em Área Urbana
 
 
Patrulhamento em Área Urbana
 
 
PELA AUDÁCIA!


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