Para as operações de GLO podemos observar diversas peculiaridades de emprego, dentre as quais destacamos:
1. COORDENAÇÃO E CONTROLE DO ESPAÇO AÉREO
a. Área terminal de tráfego aéreo
A área terminal do Rio de Janeiro/São Paulo é uma das de maior tráfego aéreo do mundo. Aeronaves em vôo internacional, vôo doméstico e entre as áreas dos aeródromos do Rio de Janeiro, vôos de turismo, de reboque de fai-xas e vôos das escolas de aviação vão continuar sua rotina a despeito das operações militares que estiverem em curso.
O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DCEA) é o órgão da Força Aérea responsável pela coordenação do tráfego aéreo.
Para minimizar a possibilidade de conflito de tráfego aéreo e reduzir ao mínimo as mudanças na rotina de operação das aeronaves civis em um ter-minal com um tráfego tão complexo, há necessidade de estreita coordenação das operações militares com aquele órgão.
2. DISSUASÃO E DISSIMULAÇÃO
A dissuasão tem sido importante ferramenta quanto ao seu papel, afim de evitar o uso da força para a consecução dos objetivos da operação de GLO.
Se as F Adv forem suscetíveis à dissuasão a ponto de justificar seu em-prego com meios aéreos, as frações de helicóptero podem desempenhar essa função com consideráveis efeitos positivos para a imagem da Força na impren-sa e para a população.
Vários exemplos de dissuasão podem ser colhidos de todas as operações de GLO. Dentre eles, o mais utilizado é realização de patrulhamento de rotas pré-definidas por aeronaves em formação e com tropas a bordo ostensivamente armadas.
Uma formação de helicópteros com essas características já foi utilizada para dissimular o verdadeiro local de uma ação.
3. COMANDO E CONTROLE (C2)
O comandante de qualquer peça de manobra pode conduzir sua operação de privilegiada posição, em locais de difícil acesso, com capacidade para decidir as situações de conduta nas melhores condições possíveis e com mínima inter-ferência do terreno nas comunicações.
Verificação dos PBCE, ligações de comando, deslocamento na sua Z Aç livre do trânsito de uma cidade como a do Rio de Janeiro e a salvo de qualquer ameaça à pessoa do comandante e inúmeras outras vantagens são colhidas em uma missão de C2.
Utilizada pelo Cmt da Op, pelos Cmt das peças de manobra e pela Polícia Militar, a missão de C2 já foi amplamente acionada e em todas as oportuni-dades trouxe grande vantagem para a operação.
No entanto, são necessárias instruções específicas a esse respeito para a melhor utilização das frações de helicóptero em missões de C2.
4. O “OLHO DA ÁGUIA”
Um equipamento de sensoriamento remoto (Forward Looking Infra Red – FLIR) foi instalado em uma das aeronaves da Aviação do Exército. Está sendo chamado de Olho da Águia.
Destaca-se dentre as possibilidades do equipamento:
a. Transmissão de imagens, ao vivo, para uma central de controle;
b. captação de imagens termais, de dia ou de noite;
c. face às características das imagens termais, revelar alvos camuflados, identificar, em vôo, pessoas armadas e que tenham realizado disparos recentemente graças à temperatura diferenciada do armamento e todos os produtos advindos da análise de uma imagem termal;
d. principalmente, fornecer ao Cmt da Op valiosa ferramenta para tomada de decisão baseado nos fatos que estão sendo registrados, ao vivo, por sensoriamento remoto.
5. EMPREGO DA FORÇA DE REAÇÃO E DE FORÇAS DE CERCO
A aeromobilidade prestada pela Aviação do Exército confere a essas forças melhores possibilidades de sucesso.
Para que isso se concretize há necessidade de:
a. Estabelecer, previamente, planos de emprego da força de reação e da força de cerco;
b. baseado nesses planos, treinar a utilização dos meios aéreos e ensaiar o que puder ser ensaiado sem que se comprometa a surpresa;
c. caso a força de reação seja acionada para uma conduta não prevista, deixar bem claro qual a missão, o local de emprego e o local de pouso. Podem parecer aspectos considerados óbvios, mas já foi constatado que comandantes de força de reação chegaram a embarcar sua tropa sem saber para onde estavam indo ou qual sua missão após o desembarque;
d. estabelecida uma força de reação, evitar a realização de rodízio de coman-dantes ou, principalmente, de elementos que a compõem. Via de regra, o ro-dízio causa solução de continuidade na eficiência dos ensaios realizados, na compreensão da missão e até na segurança de vôo, pois soldados não adap-tados às aeronaves acabam substituindo os que já passaram por treinamento específico;
e. realizar reconhecimento prévio dos locais de desembarque, tanto dos aspec-tos técnicos quanto da segurança do desembarque face à ameaça das forças adversas.
6. ÁREAS DE DIFÍCIL ACESSO E DIFÍCIL POUSO
Nos morros e favelas do Rio de Janeiro, são raros os locais onde se pode desembarcar de uma aeronave pousada, quanto mais de uma formação a qua-tro, três ou mesmo duas aeronaves.
Normalmente esses locais, quando existem, estão situados no topo de um morro e, geralmente, são os chamados “raspadões”, utilizados para campo de futebol.
O “raspadão” é um local sem vegetação onde o pouso da aeronave é feito em condições marginais de visibilidade face à poeira que o vento dos rotores provoca. Em 1994, a Força Aérea Brasileira teve um helicóptero completamente destruído devido, também, a essa limitação de visibilidade na hora do pouso.
7. INTELIGÊNCIA
Problemas com vazamento de informações já foram observados em ope-rações anteriores. As operações militares, em GLO com envolvimento de gran-de efetivo, têm grande risco quanto ao vazamento de informações cruciais.
Quando nas forças adversas estão presentes elementos do crime organi-zado, avulta de importância informações como o local da ação, o horário e o valor das forças envolvidas.
8. TRANSPORTE AEROMÓVEL
O transporte aeromóvel pode ser largamente utilizado visando a evitar que o trânsito da cidade limite ou impeça o deslocamento de pessoal ou o transporte de carga vital em determinado momento.
O transporte de autoridades também já se mostrou de grande valia.
9. EVACUAÇÃO AEROMÉDICA
Alguns detalhes operacionais precisam ser atendidos para que uma eventual evacuação aeromédica (Ev Aem) possa ser realizada com sucesso:
a. Escolha prévia de locais de pouso para a remoção e posterior evacuação do ferido.
Toda Z Aç de todas as peças de manobra envolvidas, na operação, devem ter locais previamente reconhecidos para Ev Aem. Costuma coincidir com a pri-meira instalação de saúde onde tiver um médico capaz de realizar a triagem do ferido e determinar se sua evacuação será por ambulância ou por meio aéreo.
b. Utilização de tela-código
Caso seja impossível a remoção do ferido para um local de pouso pré-planejado, cresce de importância a utilização da tela código para a locali-zação do mesmo pela tripulação que estiver cumprindo missão de Ev Aem. A utilização da tela-código é a maneira mais fácil e rápida de se comunicar com uma aeronave em vôo com o objetivo de ser localizado.
c. Assistência ao ferido durante a Ev Aem
É mandatório a presença de um médico a bordo. Esse profissional precisa ser adaptado às condições de trabalho na aeronave, precisa estar devidamente equipado para atender um ferido em um ambiente que tem um nível de ruído de 110 decibéis e não pode ter limitações orgânicas com respeito à atividade aérea. Enfim, precisa treinar para cumprir essa missão.
d. Hospitais para onde será realizada a evacuação
No Rio de Janeiro, não há problemas de infra-estrutura hospitalar para se cumprir o previsto quanto ao atendimento a politraumatizados e queimados, leitos UTI e demais aspectos previstos no ANEXO K do PBIM. O plano de eva-cuação de feridos (onde se insere, também, o plano de evacuação aeromédica) define os locais para evacuação. Cabe observar a possibilidade do pouso de aeronave em cada um desses locais.
e. Comunicações
O estabelecimento de uma freqüência exclusiva para a Ev Aem é impor-tante. Já ocorreram dificuldades para se estabelecer contato entre a tripulação em vôo e o local de onde o ferido seria evacuado. Essas dificuldades deram-se devido ao congestionamento, na exploração rádio, por pessoal que ficava pedindo informações sobre o acidente o tempo todo.
Tal freqüência, de conhecimento de todos os comandantes de fração, deve ser utilizada como uma freqüência de emergência e somente para esse fim.
10. BASE DE OPERAÇÕES DA UNIDADE AÉREA
a. Características de uma B Op
O que deve ser observado na escolha de uma B Op:
- Não estar dominada por edifícios que possam abrigar observadores das F Adv ou mesmo um provável atirador;
- dispor de segurança orgânica confiável visando à proteção das aeronaves e tripulantes;
- ter espaço suficiente para manobrar considerável número de aeronaves.
11. COMUNICAÇÕES
A Aviação do Exército precisa constar dos diversos diagramas de redes rádio e diagrama de circuitos e ser contemplada com freqüências e canais tanto para as frações de helicópteros em vôo quanto para o PC da unidade aérea (rede do comandante, de comando, logística e demais doutrinariamente previstas).
O Of. Com da Op, observados os meios existentes, deve prever possibili-dade de ligação com todos os envolvidos na Op, inclusive elementos da Polícia Militar ou Polícia Federal.
Em operações de GLO, o emprego de telefones celulares é muito eficaz. O Of. Lig Av Ex, o controlador de vôo que estiver junto ao DCEA da Força Aérea, o Cmt da U Ae e o pessoal chave do EM e das peças de manobra da sua uni-dade devem ser contemplados com telefones celulares. Como base de cálculo, a mesma quantidade de celulares disponibilizados para as demais tropas valor unidade devem ser disponibilizadas para a U Ae.
12. OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS
Uma das missões doutrinárias da Av Ex é o Lançamento Aéreo (L Ae). Em Palmas/Tocantins, no ano de 2001, ocorreu o emprego de aeronaves para a realização de panfletagem em um contexto de comunicação social/operações psicológicas.
Nesse mesmo contexto, há que se considerar, também, a possibilidade de se utilizar imagens do “Olho da águia”(termais, diurnas ou noturnas) como ferramenta de dissuasão se assim for avaliada como proveitosa.
13. CONTINUIDADE DAS OPERAÇÕES
Uma preocupação importante é garantir a transmissão de ordens entre os elementos substitutos e substituídos. A não observação dessa preocupação resulta em perda da continuidade das rotinas e a conseqüente diminuição da eficiência das ações.
14. AS AERONAVES DA IMPRENSA
Grande número de órgãos da imprensa possuem aeronaves para cobertura de reportagem. O conflito de tráfego aéreo e a real possibilidade de interferência nas operações aéreas são incontestáveis.
a. Proibição do uso do espaço aéreo por parte da imprensa
Tal medida só pode ser adotada com a expedição de NOTAM pela Força Aérea Brasileira.
b. Cobertura de reportagem realizada com aeronaves do Exército
Elementos pré-selecionados da imprensa podem ser autorizados a utilizar aeronaves do EB para cobertura de reportagem. Quanto ao aspecto operacional, fica garantida a segurança das operações.
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