Desde sua origem, na década de 70, a sigla CRM já teve diversos significados. Inicialmente a inicial “C” correspondia ao termo cockpit ou cabine, em português, sendo um programa restrito ao grupo de pilotos. Num segundo momento substituiu-se o termo por crew, que significa tripulação, ampliando o programa para toda a tripulação técnica. Finalmente, o termo foi substituído por corporate e passamos a ter a tradução constante da Instrução de Aviação Civil (IAC) 060 1002A, de 14 de abril de 2005, que é Gerenciamento de Recursos de Equipes.
A referida IAC regulamenta o treinamento em Gerenciamento de Recursos de Equipes (Corporate Resource Management - CRM), utilizando como referência as normas e recomendações sobre Fatores Humanos da Organização de Aviação Civil Internacional – OACI. O conceito atual de CRM traz uma visão mais ampla e considera que todos os setores de uma organização ligada à aviação devem aplicar a filosofia do CRM como forma de aprimoramento da segurança de vôo.
O CRM surgiu com a finalidade de melhorar o relacionamento humano no ambiente de cabine. Durante anos acreditou-se que somente a proficiência técnica dos tripulantes aliada à confiabilidade do equipamento seriam suficientes para um vôo seguro. Porém, diversos acidentes ocorridos na aviação de transporte na década de 70 mostraram que nem sempre essa crença se confirmava.
Problemas de comunicação, pequenas falhas mecânicas, liderança e supervisão inadequadas, dificuldade na delegação de tarefas e estabelecimento impróprio de prioridades constituem alguns dos fatores que evidenciaram a necessidade de se investir no fator humano, ultrapassando o treinamento técnico operacional.
Ainda na década de 70, a United Airlines foia primeira empresa aérea a aplicar o programa de treinamento em CRM ao seu grupo de pilotos. Graças ao advento dos gravadores de voz da cabine, Cockpit Voice Recorder – CVR, foi possível diagnosticar problemas simples (como por exemplo, mal contato de algum componente da cabine), que apesar de ocorrerem com tripulantes experientes e aeronaves de última geração, tornavam inevitável o acidente.
A mudança mais significativa na evolução do programa de CRM ocorreu na chamada 5ª Geração, com o surgimento da teoria da administração do erro. Também chamado de Error Managemant-CRM, o programa considerou que os erros continuariam ocorrendo, o que, portanto, tornava essencial o treinamento dos tripulantes para um bom gerenciamento desses erros.
James Reason, professor da faculdade de psicologia da Universidade de Manchester, nos EUA, disse o seguinte: Quando ocorre um evento adverso, a questão importante não é “quem errou”, e sim “por que as defesas falharam”. Essa simples colocação mudou o foco do erro, que até então era sempre atribuído aos tripulantes. As organizações passaram a desenvolver defesas para fazer frente às falhas dos tripulantes, reforçando, desta forma, a teoria da administração do erro.
Hoje se diz que a diferença entre as organizações que aceitam os erros e as que não aceitam é, somente, que as primeiras ficam sabendo quando os erros acontecem e portanto têm melhores chances de gerenciá-los, evitando suas conseqüências. Já aquelas organizações que não aceitam os erros são repletas de falhas “dormentes”, que, como armadilhas, ficam à espera de pequenos deslizes para desencadear eventos catastróficos.
Eliminar o erro humano, mesmo no século XXI, ainda é uma utopia. O erro nasce com o ser humano e o acompanha por toda a vida. É intrínseco a ele. Felizmente, porém, é possível controlar ou limitar seus efeitos, e isso se faz através de um treinamento específico e bem orientado.
Atualmente, conforme a IAC 060 1002A, o treinamento em CRM consiste em 3 (três) fases: Treinamento dos Conceitos Iniciais (1ª Fase), Prática em CRM (2ª Fase) e Reciclagem em CRM (3ª Fase), assim divididas:
- 1ª fase – Essa fase consiste tipicamente na apresentação, em sala de instrução, de conceitos fundamentais relacionados à consciência situacional, à comunicação, ao trabalho em equipe, à automação, entre outros.
- 2ª fase – A Fase Prática em CRM pode ser realizada em sala de instrução, em vôos de linha, em simulador de vôo (Line Oriented Flight Training – LOFT) ou em outros tipos de simuladores. É normalmente nesta fase que ocorrem os maiores ganhos do programa, correspondentes às mudanças de atitude e comportamento.
- 3ª fase – A reciclagem ocorre a cada dois anos e tem o importante objetivo de reforçar os conceitos de CRM na mente de todos os integrantes da organização, de modo a incorporar esses conceitos à cultura da organização.
O treinamento de CRM é uma eficiente ferramenta da prevenção de acidentes. Ele possibilita, através de um melhor gerenciamento de recursos, decisões mais eficazes em todos os níveis, resultando em vôos mais seguros e organizações mais eficientes. No entanto, não se pode esquecer que ele depende do apoio da chefia e da alta administração, que devem dar o tratamento adequado ao erro, permitindo que se mantenha aberto o fluxo de informações.Tome a decisão correta, conheça e pratique os princípios do treinamento em CRM! |