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POSSIBILIDADES DE EMPREGO DE SISTEMAS DE AUTOPROTEÇÃO DE GUERRA ELETRÔNICA
NAS AERONAVES DA AVIAÇÃO DO EXÉRCITO
 

Cap Rodrigo do Valle Macedo

 
I - INTRODUÇÃO
 

O Brasil adquiriu, recentemente, um pacote de 50 (cinqüenta) helicópteros de médio porte, o EC 725, da fabricante francesa Eurocopter, sendo 16 (dezesseis) destinados para a Aviação do Exército, que receberam a denominação de HM-4 JAGUAR. Desses cinquenta helicópteros, três já foram entregue em janeiro de 2011, uma para cada força e o restante terão sua linha de montagem nas instalações da Helibras, em Itajubá-MG.

Esta nova aeronave possui a mais avançada tecnologia de equipamentos aviônicos e mecânicos, além de estar configurada para receber sistemas de guerra eletrônica, mas especificamente para autoproteção (Self Protection Eletronic Warfare- EWSP).

A finalidade de artigo é apresentar um breve histórico da necessidade do emprego desses sistemas, a contra as possíveis ameaças nos campos de atuação da guerra eletrônica, bem como algumas definições, de forma simplificada, desses equipamentos.

 

Figura 01 - Primeiro EC 725 do Exército Brasileiro em vôo.
Fonte: www.vootatico.com
 

II - OPERAÇÕES COM HELICÓPTEROS: SOBREVIVÊNCIA X GUERRA ELETRÔNICA

A capacidade de sobrevivência de aeronaves de asas rotativas tem sido um desafio desde o seu advento em operações de combate durante a década de 1940. Ao longo dos conflitos de alta intensidade pós 2ª Guerra Mundial, ocorreram uma série de perdas e danos de helicóptero em combates por diversos fatores.

A realidade é que qualquer manobra lenta, ruidosa e até mesmo o “suave” funcionamento da aeronave nas proximidades inimigas em território hostil é um excelente convite a ser alvo de uma vasta gama de armas e sensores eletrônicos de vigilância, sejam eles operados manualmente, transportados em veículos ou em outras aeronaves.

Dos 40 (quarenta) helicópteros perdidos até os últimos conflitos no Iraque e no Afeganistão, cerca de metade foi devido à hostilidade de fogo e outras ameaças, o restante por colisões em pleno ar ou de outros acidentes aéreos. Essas estatísticas mostram claramente que as perdas de helicópteros em combate não dominam mais perdas acidentais, ao contrário da época do Vietnã, devido à vasta quantidade de ameaças desenvolvidas com a evolução tecnológica das últimas décadas.

III - AMEAÇAS PARA HELICÓPTEROS EM AMBIENTE ELETROMAGNÉTICO HOSTIL

Antes de conhecer o funcionamento e alguns exemplos de radares e sistemas de armas com guiamento infravermelho, é importante entender alguns conceitos básicos sobre guerra eletrônica, bem como seus campos de atuação e suas divisões.

Segundo o manual de campanha do Exército Brasileiro C 34-1- O Emprego da Guerra Eletrônica, 2ª ed., 2009, “chamase Guerra Eletrônica (GE) ao conjunto de atividades que visam desenvolver e assegurar a capacidade de emprego eficiente das emissões eletromagnéticas próprias, ao mesmo tempo em que buscam impedir, dificultar ou tirar proveito das emissões inimigas.”.

A guerra eletrônica atua em dois campos distintos, sendo o das não-comunicações (N Com), já citado anteriormente e o das comunicações (Com) enquadra os sinais eletromagnéticos e equipamentos utilizados para o trânsito de informações. A guerra eletrônica se subdivide em três ações: medidas de apoio à guerra eletrônica (MAGE), medidas de ataque eletrônico (MAE) e medidas de proteção eletrônica (MPE).

A figura abaixo apresenta a distribuição do espectro eletromagnético e suas formas de atuação para a guerra eletrônica:

Figura 02 - Distribuição do espectro eletromagnético e suas aplicações para a Guerra Eletrônica
Fonte: GITE, 2008.
 

3. 1 Radares

RADAR, que significa Radio Dectiocion Randing (Alcance por detecção rádio), são dispositivos eletrônicos capazes de detectar, através do princípio de rádio a presença de objetos, determinar a sua distância, direção e velocidade. Podem ser empregadas para funções as mais diversas, como vigilância, aquisição, guiamento de armas, mensuração de altimetria e imageamento.

Para cada caso, deve-se utilizar o tipo de sistema que possua características adequadas à sua aplicação. A seguir observam-se alguns dos diversos tipos de emprego radares.

3. 1.1 Radares de Busca Aérea

Um radar de busca aérea, teoricamente, pode detectar alvos a uma longa distância.. No caso mais extremo, quando o radar está em uma plataforma aérea, como em um AEW (alarme aéreo antecipado), como o da aeronave E-99, ilustrada na figura 3, o horizonte radar é aumentado ao máximo, detectando facilmente alvos em voos rasantes.

 

Figura 03 - Radar “Erieye” da aeronave E-99 da FAB
Fonte: www.fab.mil.br

 

3.1.2 Radares diretores de tiro e guiamento de mísseis

Fazem a aquisição de alvos originalmente detectados e designados pelos radares de busca, e a determinação de marcações e distâncias dos referidos alvos, com elevado grau de precisão.

Como os mísseis dispõem de pouco espaço para a rotação da antena, esses radares com varredura monopulso apresentam uma vantagem adicional, com a possibilidade de usar uma antena fixa, com as correções sendo feitas no eixo do próprio míssil. O Exército Brasileiro possui um modelo deste radar no sistema EDT-FILA.

3.1.3 Radar de Vigilância Terrestre (RVT)

O Radar de Vigilância Terrestre (RVT) são equipamentos que visa auxiliar e complementar os radares de artilharia antiaérea na detecção e identificação de alvos aéreos a baixa altitude e localizar alvos na superfície. Os RVT são empregados, dentre outras missões, na vigilância de rotas de aproximação de helicópteros e outras aeronaves inimigas, a baixa altura, sendo assim este pode ser classificado como uma das principais ameaças para identificação de helicópteros da AvEx, que conforme sua doutrina de emprego cumprem suas missões navegando a baixa altura (NBA).

Em geral, são portáteis e possuem a limitação da necessidade de possuir visada direta com o alvo, conforme está ilustrado na figura 04.

 
Figura 04 – Radar de Vigilância Terrestre - AN/PPS-5
Fonte: CIGE, 2006.
 

3.2 Sistemas de mísseis com guiamento infravermelho

A tendência de se utilizar sistemas com guiamento infravermelho deve avançar para o próximo século, face à disponibilidade de sensores mais sofisticados. Por outro lado, a redução dos custos de sistemas simples vem contribuindo para a proliferação desse tipo de ameaça entre países do Terceiro Mundo.

Atualmente existem inúmeros armamentos de guiamento infravemelho do tipo MANPADS (Man Portable Air Defense System), que são de grande precisão, baixo custo e podem ser carregadospor apenas um militar. Esse é o armamento que oferece a maior ameaça aos helicópteros, pois são completamente passivos até o momento do seu lançamento.

Utiliza este tipo de guiamento os mísseis anti-radiação (MAR) que são capazes de navegar com alta precisão em direção a um radar, guiados pela radiação emitida pelo mesmo, sendo do tipo “atire e esqueça” (“Fire and Forget”). Um exemplo é o míssil IGLA, como mostra na figura 05.

 
Figura 05 - Míssil IGLA
Fonte: CIGE, 2006.
 

IV - PROPOSTAS DE SISTEMAS DE AUTOPROTEÇÃO DE GUERRA ELETRÔNICA PARA AS AERONAVES DA AVEX

A autoproteção eletrônica busca diminuir nos helicópteros a suscetibilidade de estar aberto para ataques efetivos do inimigo, através da redução das fraquezas inerentes a esta plataforma aérea. Pode-se fazer através de vários recursos que utilizam medidas de apoio à guerra eletrônica (MAGE) e medidas de ataque eletrônico (MAE) não destrutivas, no caso, o bloqueio e o despistamento.

Serão apresentados os conceitos básicos de alguns destes sistemas de alarme e proteção, que poderão ser incorporados a frota AvEx.

4.1 Sistemas de alarme

São equipamentos passivos (não emitem sinais) que tem como função primária alarmar quando são recebidos sinais associados a ameaças. Historicamente, são equipamentos relativamente baratos e confiáveis. Com o advento de novas tecnologias, estes equipamentos estão cada vez mais sofisticados e “inteligentes”, aumentando consideravelmente a capacidade de sobrevivência das equipagens e plataformas em ambientes hostis, principalmente quando interligados com sistemas de autodefesa (como lançadores de chaff e flares). São enquadrados de acordo com a faixa de freqüências das ameaças que pretendem evitar. Por exemplo:

     a) RWR (Radar Warning Receiver - receptor de alerta radar);

     b) UVWR (Ultra-Violet Warning Receiver - receptor de alerta de ultravioleta);

     c) MAWS (Missile Aproach Warning System – sistema de alerta de aproximação de mísseis de infravermelho);

     d) LWR (Laser Warning Receiver - receptor de alerta de laser), sendo que a probabilidade de um helicóptero conseguir se proteger de uma ameaça baseada em um sensor laser é muito baixa.

 
Figura 06 - Exemplo de sistemas de alarme- Sistema SPS-H-V2
Fonte: CIGE, 2006.
 

4.2 Sistemas de proteção (bloqueio e despistamento)

São dispositivos lançados das aeronaves, automaticamente ou manualmente, após o sinal de interceptação de um sistema de alarme com a finalidade de bloquear ou despistar a aeronaves da ameaça (radar ou míssil). É dividido em:

a) chaff é o nome genérico dado as aparas metálicas ou metalizadas (alumínio ou fibra de vidro aluminizada) as quais são espalhadas na atmosfera e caem lentamente, refletindo as ondas eletromagnéticas. Dependendo da quantidade podem formar um “corredor”. É usualmente aplicado contra radares e cria setores de grande reflexão da emissão radar, dificultando a visualização dos alvos e induzindo à redução de ganho do receptor na área afetada.

b) flare, que são despistadores (decoys) com formato de bastonetes incandescentes, conforme a figura 12, que foram desenvolvidos tanto para enfrentar os mísseis guiados por infravermelho (“IR homming”) quanto para fazer face aos sistemas de rastreamento (FLIR - Forward Looking InfraRed).

c) refletores (towed decoys) angulares, que são objetos metálicos com formas geométricas bem acentuadas, para o despistamento de mísseis com guiamento infravermelho.

d) interferidores (jammers), em oposição ativa pode ser feita por interferência tipo barragem, de ponto ou varredura, utilizando equipamentos de medidas de ataque eletrônico de alta potência, normalmente instalados em pods, empregados nos modos de bloqueio afastado (SOJ- Stand-Off Jamming), bloqueio de autoproteção (SSJ-.Self Screen Jamming), bloqueio avançado(SFJ- Stand-Forward Jamming) e bloqueio de escolta (EJ-.Escort Jamming).

 
Figura 07 - Helicóptero lançando Chaff/Flare
Fonte: www.vootatico.com
 

A seguir, o quadro 1 resume a eficiência do emprego dos sistemas de alarme e proteção contra as possíveis ameaças.

 
 

V - CONCLUSÕES SOBRE O EMPREGO DE SISTEMAS DE AUTOPROTEÇÃO DE GUERRA ELETRÔNICA PARA AERONAVES DA AVEX

Este artigo não expressa a totalidade dos aspectos que podem ser aprimorados na área de guerra eletrônica embarcada, pois foi dada ênfase apenas nos sistemas que atuam no campo das não-comunicações, sendo que os sistemas de proteção eletrônica que atuam no campo das comunicações, como os rádios definidos por software, com salto de freqüência, transmissão de dados e criptografia, além do IFF (Identifier Friend or Foe), tecnologias que também poderão ser instaladas na mais nova aeronave da frota, o EC 725 JAGUAR, bem como o Pantera e Fennec modernizados, serão extremamente importantes, em todos os níveis de emprego, para a sobrevivência desses aeronave durante as operações.

Deve-se também, atentar para a doutrina de pilotagem e emprego dessas aeronaves recém adquiridas, no tocante ao emprego de manobras evasivas e furtivas.

É importante ressaltar, que MAWS, LWR e RWR não competem pela mesma tarefa. Cada qual opera em uma faixa diferente do espectro eletromagnético e responde a diferentes ameaças, mas existem no mercado internacional, equipamentos integrados com estes sistemas.

A integração de sistemas de autoproteção de guerra eletrônica somados a um banco de dados de ameaças atualizado e ao aprimoramento da doutrina de pilotagem e emprego dessas , no tocante as manobras evasivas e furtivas, constituirá numa evolução tecnológica e doutrinária para manter uma alta probabilidade de sobrevivência das aeronaves da Aviação do Exército, nas hipóteses de emprego atuais.

*O autor é Capitão de Comunicações (AMAN,2000) e possui os cursos de Gerência de Manutenção de Aviônicos (CIAvEx, 2003), Básico de Guerra Eletrônica (CIGE,2006), Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO,2009) e o estágio de Operações Aeromóveis (CIAvEx,2009). Atualmente exerce função de instrutor da Seção de Ensino de Manutenção de Aeronaves e de instrutor de Guerra Eletrônica dos Cursos de Piloto de Combate e Avançado de Aviação, do CIAvEx.

Referências Bibliográficas

1. BASTOS, EZEQUIEL DA SILVA. Apresentação de trabalho sobre a tese de Doutorado de HEIKELL, JOHNNY:
Autoproteção Eletrônica para helicópteros de Combate. In: IX SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GUERRA
ELETRÔNICA, 2007. ITA. São José dos Campos-SP.

2. BRASIL. Comando do Exército. Estado-Maior do Exército. C 34-1: Emprego da Guerra Eletrônica. 2º. ed.
Brasília:EGGCF, 2009.

3. CASTRO, Davi; GUIMARÃES, Edson. MAWS – Uma nova tendência em sistemas de autodefesa para
aeronaves. Revista SPECTRUM, Brasília, v.1, n.1, p.28-32, jan.2000.

4. COMANDO DE AVIAÇÃO DO EXÉRCITO.
Disponível em:< http://www.cavex.eb.mil.br> Acesso em 20 de novembro de 2011.

5. HEIKELL, JOHNNY.Dc. Electronic Warfare Self-Protection of battlefield helicopters: A holistic view. 2005.217 f.
Tese (Doutora em Tecnologia)- Universidade de Tecnologia de Helsinki, Finlândia, 2005.

6. HELIBRAS-HELICÓPTEROS DO BRASIL.Acesso em 15 de novembro de 2011. Disponível em:
<http://www.helibras.com> Acesso em 20 de novembro de 2010.

7. MACÊDO, RODRIGO DO VALLE. O emprego de sistemas de autoproteção eletrônica de não-comunicações nas
aeronaves AS 550 A2 – Fennec (HA-1) da Aviação do Exército em missões de reconhecimento aeromóvel. 57f. Trabalho de
Conclusão de Curso (Especialização)–Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, Rio de Janeiro, 2009.

8. REVISTA SPECTRUM. Brasília-DF: Comando- geral do Ar, Brasília, v.1, n.10, p.13-15, mar.2007.

9. Voo Tático - Disponível em: <http://vootatico.com.br/ /archives/2855 >Acesso em 30 de janeiro de 2012.

 
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