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CURSO AVANÇADO DE AVIAÇÃO DO EXÉRCITO NA VENEZUELA
 
INTRODUÇÃO
 

Creio que todo militar do Exército sonha em cumprir uma missão fora de nosso País, levando para o além-fronteiras nossa bandeira, nossos valores e nossas tradições. Comigo nunca foi diferente, por isso, em meados de 2012, quando fui designado pelo Comando do Exército para frequentar o Curso Avançado de Aviação no Exército Venezuelano, atingi um de meus grandes objetivos profissionais.

Após quase duas décadas servindo ao Exército Brasileiro (EB), e sete anos como piloto da Aviação do Exército (AvEx), fui selecionado, junto com um grande amigo, o Major de Artilharia Leonardo Jorge Oliveira da Silva, para realizar este curso de especialização em nosso país irmão caribenho. A notícia da designação foi o ponto de origem do grande desafio de, representando nosso Exército e nosso País, passar um ano em terra estrangeira, de idioma e cultura diferentes, frequentando um curso em um Exército notadamente forte e bem equipado.

Outro grande desafio veio do fato de ser um curso “novo” para o Exército Brasileiro. Militares brasileiros vem, há muitos anos, frequentando cursos na área de Av Ex em outros países, principalmente Estados Unidos e França, mas nunca na Venezuela. Junto ao desafio de abrir a missão, veio a oportunidade de desbravar uma “cidade” diferente de Caracas. Ao contrário dos quase vinte militares do EB em missão naquele País, nossa sede não foi a capital, e sim a cidade de San Felipe, distante quase 300 quilômetros.

 
A VENEZUELA
 

Somente ao chegar naquele país irmão é que pudemos contemplar toda a riqueza existente. Suas expressões culturais e históricas, tradições e costumes são muito diversificados, mas o que mais impressiona são as belezas naturais.

Apesar de possuir um território bem menor que o Brasil, a Venezuela possui uma riqueza natural invejável. Banhada ao norte pelo Mar do Caribe e compartilhando a Amazônia a sul, tem em sua região ocidental as elevadas altitudes da Cordilheira dos Andes e na oriental o oceano Atlântico e a fronteira com a Guiana.

Em termos naturais, pode-se considerar a Venezuela como uma terra muito rica e de contrastes. É possível, em poucas horas de carro, sair do morno e calmo Mar do Caribe, passar pelos Llanos, grandes áreas com vegetação típica de savana, e chegar às frias altitudes dos Andes, que lá se aproximam da marca dos 5.000 metros, com seu ápice no topo nevado do Pico Bolívar.

Após esta breve introdução, onde abordei os aspectos relativos à preparação para a missão, além de uma breve tintura sobre a diversidade geográfica venezuelana, passemos agora ao objetivo principal deste artigo, a Aviação do Exército Bolivariano da Venezuela e seu Curso Avançado.

 
A AVIAÇÃO DO EXÉRCITO VENEZUELANO
 

Chegando à sede do Comando de Aviação do Exército Venezuelano, se percebe a grande diferença em relação à nossa AvEx. No pátio do aeródromo de La Carlota, em Caracas, ao primeiro olhar já vemos, além dos rotores, diversas aeronaves de asas fixas. Mas as grandes diferenças cessam por aí! A história, a doutrina, o preparo e o emprego são muito semelhantes à de nossa Aviação do Exército.

 
UM BREVE HISTÓRICO
 

As origens da Aviação do Exército venezuelano remontam ao ano de 1913, quando foi constituída uma Junta com o objetivo de realizar estudos e reunir fundos para a compra de um avião biplano destinado a este componente das Forças Armadas.

Em 1920 foi criada a Escola de Aviação Militar, que tinha a finalidade de formar os pilotos do exército. Esta escola contou com o assessoramento técnico e logístico de diversas missões aeronáuticas, a francesa (1921 a 1929), a alemã (1930 a 1933) e a italiana (1938 a 1940). Em janeiro de 1944 chegou ao país a primeira Missão Aeronáutica Estadunidense.

A missão estadunidense tinha por finalidade realizar um diagnóstico em relação ao pessoal, equipamentos e instalações existentes, de forma a superar os óbices logísticos advindos da 2ª Guerra Mundial. Decorrente deste diagnóstico, e da consequente reorganização, em 22 de junho de 1946 foi criada a Força Aérea Venezuelana, a qual recebeu os meios aéreos até então operados pelo exército.

Em 1970 houve o renascimento da Aviação do Exército, quando foi criada a Seção Aérea do Exército, que contou inicialmente com um avião Beechcraft B-80.

Em junho de 1982, logo após a Guerra das Malvinas, os meios aéreos foram reunidos e foi criado o 81º Regimento Aéreo do Exército. Neste momento, a força terrestre venezuelana já contava com vinte aviões e dez helicópteros. Com sua capacidade de transporte já desenvolvida, em 1983 começaram a chegar os helicópteros Agusta A-109, que foram empregados como helicópteros de ataque.

Concluindo esta evolução, em 1993 foi criado o Comando Aéreo do Exército, considerada a primeira Grande Unidade de Combate do Exército Venezuelano. As designações mudaram ao longo dos anos e, atualmente, é chamado de Comando de Aviação do Exército.

 
AERONAVES
 

O inventário de aeronaves é muito diversificado. Mesmo que tenha sido feito um grande esforço no sentido de renovar, padronizar e atualizar a frota, dando novo fôlego à AvEx, os meios aéreos mais antigos seguem operacionais.

As aeronaves utilizadas na instrução são os consagrados Cesna 182T Skylane e Bell 206B Jet-Ranger. Nestes dois modelos são formados os Falcões e os Condores da Aviação do Exército Bolivariano da Venezuela.

Os principais meios operacionais de asa fixa são o Israelense IAI Aravá, em seus modelos 201 e 202, e o polonês M-28 Skytruck. Estes aviões somam um total de 17 unidades operacionais, o suficiente para conduzir o Escalão de Assalto de um Batalhão de Infantaria em uma única leva a qualquer local daquele País.

No rol das asas rotativas, o inventário é variado. Desde o ano de 1977 foram recebidas as seguintes aeronaves: 09 Bell 205 (UH-1 Iroquois), 02 Bell G47, 03 Bell Jet-Ranger 206B, 01 Bell Ranger 206-L, 02 Bell 412 HP, 10 Bell 412 EP, 10 Agusta 109 e 04 Agusta-Sikorsky AS 61D.

Destas, somente fazem parte do inventário atual as aeronaves Jet-Ranger 206B, Bell 412 HP/EP e os Agusta-Sikorsky AS 61D.

No ano de 2006, com objetivo de renovar a capacidade operacional da força de helicópteros, o governo venezuelano iniciou os estudos necessários para a compra de novas aeronaves. Surge aí o Projeto Pemón, que buscando modernizar e desenvolver a Aviação do Exército com material de origem russa, resultou na compra de 30 helicópteros russos para a Av Ex Venezuelana.

Foram destinadas à Aviação do Exército 17 MI-17V-5, 03 MI-26T e 10 MI-35M2. Estes helicópteros, devido às suas características peculiares, conferiram novas capacidades ao braço alado da força terrestre. Todos eles receberam designações em homenagens às principais etnias indígenas do País e, assim como os índios, se adaptaram perfeitamente às condições de emprego impostas pelos diferentes ambientes operacionais da Venezuela.

O MI-17, designado Panare, é uma aeronave de emprego geral, extremamente rústica e confiável, sendo utilizada em todos os tipos de missão. Com sua presença constante nas fronteiras e o apoio em operações de ajuda humanitária e graves calamidades, se assemelha muito em características, possibilidades de emprego aos nossos HM-2 Black-Hawk, HM-3 Cougar e HM-4 Jaguar.

 
Figuras 01 e 02 - Mil MI 17 V5 - Panare
 
O MI-26, o Pemón, é um helicóptero que impressiona pelo seu magnífico tamanho. Não é todo dia que se vê um helicóptero com mais de 40 metros de comprimento, capaz de transportar mais de 20 toneladas de carga, ou embarcar mais de uma centena de militares armados e equipados. Seu principal emprego é o transporte administrativo de tropas e apoio logístico. Um emprego interessante é como Posto de Ressuprimento Avançado (PRA), já que pode transportar mais de 18.000 litros de combustível, com o material de abastecimento e o pessoal necessário para operá-lo.
 
Figura 03 - Mil MI 26 - Pemón
 
O MI-35, que recebeu o nome de Caribe, tem o emprego orientado em sua finalidade, o combate. Seu armamento, que inclui o míssil 9M120 Ataka-V, lhe confere poder de combate único dentro das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas. Este formidável meio aéreo está atualmente na Rússia, onde passa por grandes revisões e modernizações, e ao retornar voltará a prover o apoio aéreo aproximado às operações das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas.
 
Figura 04 - Mil MI 35 - Caribe
 
UNIDADES
 

A Aviação do Exército Venezuelano tem por missão: “Localizar e Destruir as Forças Inimigas através do fogo e da manobra, prover apoio ao combate e apoio logístico às operações, como integrante de um Agrupamento de Armas Combinadas, em toda a largura e profundidade do Campo de Batalha”.

De constituição muito semelhante à nossa, tem no Comando de Aviação do Exército o seu órgão centralizador, e se divide em Batalhões, Centros de Simulação, Centros de Manutenção e Escola de Aviação.

Em Caracas se encontram, além do Comando, o Batalhão Especial de Reconhecimento "General de Brigada Francisco Conde", unidade aérea de asa fixa, e o Centro de Abastecimento da Aviação do Exército "General en Jefe Juan Antonio Sotillo".

A cidade de San Felipe, capital do estado de Yaracuy, abriga a maioria das Organizações Militares da Aviação do Exército. É inevitável a comparação com Taubaté, pois ela serve de ninho para a maior parte das unidades da Av Ex Venezuelana.

Ali estão sediados o Batalhão de Helicópteros "General de Brigada Florencio Jiménez", a Escola de Aviação do Exército "General de Brigada Juan Gómez", o CIVIS, Centro de Instrução de Voo por Instrumentos Simulado "Mayor Guillermo Díaz Silva" e o CIESC, Centro de Instrução e Treinamento Simulado Conjunto “General de Brigada Óscar José Martinez Mora”.

 
Figura 05 - Entrada do Batalhão de Helicópteros "General de Brigada Florencio Jiménez"
 

Vale destacar aqui que o CIESC é uma unidade de simuladores ainda em desenvolvimento. Suas instalações estão sendo preparadas para abrigar o maior e mais moderno centro de simulação de helicópteros russos do mundo. Quando pronto, contará com três simuladores “Full-Motion”, um para cada modelo russo aqui operado.

Seguindo com o desdobramento das unidades, está em Barinas, capital do estado de mesmo nome, o Batalhão de Helicópteros Multipropósito “Coronel Mauricio Encinoso”, e no estado Guárico fica a sede do Batalhão de Aviões "General de Brigada Tomás Montilla", mais precisamente na cidade de Valle de la Pascua. Resta ser citado, na cidade de Charallave, o Centro de Manutenção da Aviação do Exército "General de Brigada Francisco de Paula Alcantara".

 
O CURSO AVANÇADO DE AVIAÇÃO DO EXÉRCITO
 

O Curso Avançado de Aviação tem por objetivo habilitar o Capitão da arma de Aviação a exercer, em uma unidade de valor Batalhão, tanto as funções de Oficial de Estado-Maior quanto a de Subcomandante.

Os alunos são os oficiais da arma de aviação no meio do interstício como capitão. Como em qualquer escola moderna, o intercâmbio de informações é constante e ocorre nos três sentidos, Instrutor-Aluno, Aluno-Instrutor e Aluno-Aluno. Aqui esta troca de informações é mais intensa devido à diversidade de especialidades entre os alunos. Apesar de a formação comum ser de aviador do exército, há as diferenças de bagagem profissional entre pilotos de avião, de helicóptero, e os oficiais que permaneceram nas áreas logística e de apoio.

 
Figura 06 - Instrução de Emprego Tático do Batalhão de Helicópteros, ministrada pelo autor
 

Com duração aproximada de um ano, o curso tem currículo amplo e abrangente. As matérias vão desde a “Compreensão da Realidade Nacional”, onde se estuda a formação e a evolução social e política do Estado Venezuelano, até a “Tática de Batalhão de Aviação do Exército”, atividade-fim de um oficial de aviação componente de estado-maior. Passa-se ainda pela Logística, Busca e Salvamento e, principalmente, a Organização e o Emprego de todas as Armas e Sistemas Operacionais constituintes do Exército Venezuelano.

Cabe aqui ressaltar que o oficial do exército, uma vez que se forma aviador durante o curso de graduação na Academia Militar, não trava muito contato com as demais armas do Exército Venezuelano como tenente. Por isso a importância de se conhecer o Modus Operandi das outras armas neste curso.

 
Figura 07 - Instrução de Emprego Tático de Blindados, na foto um T-72
 

Além do curso de especialização, durante o ano escolar também é realizado um Programa de Mestrado, coordenado pela Universidade Militar Bolivariana.

Os temas a serem pesquisados no desenvolvimento da Tese são de livre escolha dos alunos e homologados pelo Comando da Escuela de Aviación del Ejército. Esta liberdade permite que sejam buscadas soluções práticas para problemas reais enfrentados pelos oficiais ao longo de suas carreiras como aviadores do exército.

Esses temas, em consequência, são muito interessantes, pois abordam os problemas enfrentados no dia a dia das unidades aéreas e que dificultam a cumprimento das missões da AvEx. Vão desde a viabilidade de formar uma equipe de bombeiros de aviação orgânica, até um programa de adestramento voltado ao voo em região montanhosa.

 
CONCLUSÃO
 

Este período passado na Venezuela foi de grandes aprendizados pessoais e profissionais. Estar imerso, ao longo de um ano, em uma cultura, aprendendo sobre seus hábitos, costumes e tradições, traz a qualquer pessoa uma grande bagagem de vida que nunca será esquecida.

Ao longo deste período de convivência com os oficiais venezuelanos pude, além de trocar conhecimentos técnicos, táticos e doutrinários, constatar a universalidade dos valores militares.

O convívio com a Aviação do Exército Venezuelano me permitiu também conhecer uma aviação madura, consciente de sua missão, e que possui possibilidades e limitações semelhantes às de nossa Aviação do Exército.

 
Maj Inf NELSON PEREIRA PINTO HOMEM
 
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