A Manutenção de aeronaves é a tecnologia relacionada com as ações requeridas para manter ou melhorar a aeronavegabilidade e a confiabilidade prevista no projeto da aeronave e seus sistemas, subsistemas, e componentes, durante toda a vida operacional da aeronave. No Brasil, o órgão regulador responsável pela fiscalização do setor é a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).
Periodicamente devem ser efetuadas revisões (check) nas aeronaves de acordo com um determinado intervalo de utilização. Esses intervalos podem ser expressos em horas de voo, tempo calendário ou ciclos.
Esse conjunto de procedimentos é reunido em um documento, chamado Programa de Manutenção, geralmente emitido pelo próprio fabricante da aeronave. Esse programa deve conter as tarefas e operações que necessitam ser realizadas em uma aeronave para garantir a sua aeronavegabilidade continuada.
Um Programa de Manutenção é um documento da empresa operadora da aeronave cuja função é descrever detalhadamente quais serão os intervalos e tarefas de manutenção a serem seguidos pela mesma, no intuito de manter sua aeronave aeronavegável.
A elaboração de um programa de manutenção adequado para a aeronave ou frota operada pela empresa exige pessoal capacitado, de preferência com alguma experiência nesse tipo de trabalho e manutenção da aeronave em questão. O programa de manutenção da empresa não precisa necessariamente seguir todas as recomendações do fabricante.
Além disso, o programa de manutenção pode ser revisado a partir da experiência do operador (claro que sempre com uma grande quantidade de dados obtidos pela operação da aeronave), modificando-se, assim, os requisitos da manutenção executada pela operadora, de maneira a melhorar a eficiência operacional da mesma.
Se a empresa operadora não tiver experiência com um determinado modelo de aeronave, ela deve partir dos intervalos de manutenção recomendados pelo fabricante para a elaboração de seu programa. Somente depois de reunir uma quantidade suficiente de dados operacionais, operando a aeronave durante algum tempo, é possível pleitear modificações no programa de manutenção da empresa.
Os órgão nacionais e internacionais que regulam a aviação exigem um programa de manutenção para cada modelo de aeronave. No Brasil a ANAC estabelece no Regulamento Brasileiro de Aviação Civil (RBAC) nº 121 que para cada modelo de aeronave deve ser elaborado um programa de manutenção, o qual deve ser submetido à sua aprovação. E também é uma exigência na aviação internacional, conforme previsto nos Anexos 6 e 8 da Convenção de Aviação Civil Internacional da ICAO (International Civil Aviation Organization).
Apesar das aeronaves militares não serem regidas pela legislação da ANAC, o Exército cumpre o Programa de Manutenção recomendado pelo fabricante.
Na Aviação do Exército, além de garantir a aeronavegalidade da aeronave, o Programa de Manutenção facilita o planejamento da manutenção, e o seu cumprimento é essencial/contribui para manter uma boa disponilidade da frota, e consequentemente uma boa operacionalidade para a Força Terrestre.
De acordo com a NARMAvEx, a função manutenção de aviação engloba os procedimentos e rotinas que visam a manter a disponibilidade e atingir as metas de esforço aéreo estabelecidas. O planejamento da manutenção do material de aviação baseia-se, entre outros fatores, nos programas de manutenção das diversas aeronaves.
O Programa de Manutenção seguido pela Aviação do Exército é o emitido pelo fabricante, o Master Servicing Manual (MSM) e especifica todas as operações de manutenção que devem ser realizadas pelo operador para garantir a aeronavegabilidade continuada, disponibilidade operacional e performance/desempenho da aeronave nas diversas missões.
Figura 03 - Programa de Manutenção (MSM) da Anv HA-1
No MSM são definidos os tipos (preventiva, corretiva e curativa) e métodos (Hard Time, On Condition e Condition Monitoring) de manutenção, além das condições especiais de operação (atmosfera tropical e úmida, clima muito frio, atmosfera salina, etc.). Os principais intervalos de manutenção são:
- Inspeções diárias (pré, inter e pós-voo)
- Inspeções complementares (tipo “S”, no caso do HB 350 L1 é de 150 HV)
- Inspeções básicas (tipo “A” ou “T”, 24 meses ou 600HV)
- Grandes Revisões (tipo “C”, 12 anos)
Já os componentes que apresentavam limite de vida em serviço (SLL) que constavam no capítulo 05-98-00 do antigo programa de manutenção (PRE) atualmente fazem parte de uma nova documentação: a Seção de Limitações de Aeronavegabilidade (ALS, do inglês Airworthiness Limitations Section).
O Programa de Manutenção pode ser modificado por pedido do operador, mas para isso é necessário ter uma grande base de dados para poder contestar o fabricante. Recentemente a DMAvEx conseguiu junto à Eurocopter o aumento do intervalo das inspeções “A” e “T” da frota AS 365 K de 18 para 24 meses e de 500 para 600 HV.
O Programa de Manutenção é essencial para manter a operacionalidade da Força e principalmente para voar com segurança. Deve ser de conhecimento de todos os aeronavegantes que trabalham com manutenção, em todos os níveis, para que seja aplicado corretamente e para levantamentos estatísticos que possam vir a aumentar os intervalos propostos pelo fabricante.
Referências Bibliográficas
1. Brasil. Regulamento Brasileiro de Aviação Civil (RBAC) nº 121.
2. Brasil. Normas Administrativas Relativas ao Material de Aviação do Exército (NARMAvEx) 2009.
3. Eurocopter. Master Servicing Manual (MSM)AS 350 L1, Revision 001, 20/10/2011.
4. ICAO. Anexo 6 e 8 da Convenção de Aviação Civil Internacional.
5. http://pt.wikipedia.org/wiki/Manutenção_de_aeronaves
6. http://www.manutencaodeaeronaves.eng.br
7. PECCI, Samuel R. A. Engenheiro Mecânico-Aeronáutico. Artigo: Programa de Manutenção.