CONFLITOS ASSIMÉTRICOS E A ADEQUAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS |
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As situações de desequilíbrio existentes no ordenamento mundial são freqüentes. Elas normalmente se manifestam em função dos objetivos estratégicos perseguidos pelos atores internacionais. Identifica-se claramente a existência de inúmeras dimensões desse desequilíbrio, que visam a garantir melhores e mais vantajosas condições de liderança ao bloco dominante de nações. Esse bloco se fortalece mutuamente nos órgãos de representatividade mundial, tendo sua expressão máxima no Conselho de Segurança, que atua como guardião dos interesses de um pequeno grupo de países, em detrimento de ser um órgão de representatividade internacional, homogêneo e harmônico. Tal atuação, agrava o desequilíbrio entre as nações, seja no campo econômico-social, seja no campo político-militar, fato que resulta em uma assimetria de condições de vida, de progresso e de esperança. No campo militar, a conseqüência desse sereno desequilíbrio é caracterizada pelos denominados conflitos assimétricos. Após a Guerra do Viatnã até o final da Segunda Guerra do Golfo, em um período de aproximadamente 30 anos, o tema principal dos exércitos voltou a se resumir em torno das forças convencionais, que tinham a possibilidade de se enfrentar em teatros operativos regionais ou globais, com ou sem a inserção da componente atômica, colocando em risco a sobrevivência do próprio planeta. A integração mundial e o efeito produzido pela globalização alimentaram o surgimento de várias organizações, muitas nutridas pelo ressentimento religioso. Não raro, essas organizações elegeram os Estados Unidos e a política externa norte-americana como inimigos. Em 1998, a Al Qaeda organizou-se com quatro diferentes, mas integradas, estruturas para perseguir os ideais revolucionários do Islã:
Assim organizado e inserido em um contexto global, este grupo terrorista tornou-se capaz de ameaçar os EUA em seu próprio território. Como grupo oponente, ele era flexível, adaptável, complexo, assimétrico, inovador, disperso, integrado, confiante e capaz de auto-regenerar-se. O valor combativo da Al Qaeda não se resume no fato de mensurar a quantidade de combatentes aptos a desencadearem um ato terrorista, mas, sim, na capacidade que essa entidade política-radical tem de recrutar, inspirar e mobilizar novos integrantes, tornando-os novos guerreiros da revolução ou simples simpatizantes. O maior objetivo de Bin Laden é descaracterizar por completo o Estado de Whestphalia (as Forças Armadas pertencentes aos Estados), com um sistema medieval de valores, associado ao antigo califado e baseado na interpretação extrema e radical do Islã. O arco de instabilidade que está implantado no oriente e alcança as fronteiras da Indonésia e das Filipinas, passando pelo norte da África, possui várias etnias, em sua maioria regida pela fé muçulmana. Não se resume, portanto, a um só país. É acolhido por diversos territórios que irradiam a fé muçulmana. Atualmente, a Al Qaeda é apoiada tanto pelos sunitas como pelos xiitas, desde quando houve sua inclusão em 1996 no Hezbollah internacional – partido revolucionário, criado por iniciativa do movimento iraniano. Uma característica interessante a respeito da Al Qaeda é de que as suas atividades terroristas e insurgencionais são oriundas de uma série grupos que lhe concedem apoio e suporte, cuja cultura, a raça e o conhecimento profissional variam enormemente, mas que incondicionalmente arriscam e sacrificam a própria vida pela causa na qual acreditam. Por meio do Islã, Bin Laden irradia a sua interpretação míope das leis religiosas propostas por esta ideologia, influenciando toda uma legião de guerreiros a lutar pela causa da Guerra Santa – Jihad. Entretanto, Jihad é uma das tarefas básicas atribuídas pelo Profeta aos muçulmanos. Em essência, Jihad significa luta. Luta pelo avanço ou pela defesa do Islam. A Jihad é regida por duas correntes de pensamento:
No Século XVI, Ebu’s Su’ud, professor catedrático reconhecido no Império Otomano definiu Jihad da mesma forma em que hoje os radicais islâmicos a caracterizam para defender seu posicionamento. Dizia o professor que: “Jihad não é missão única de indivíduos, mas, sim, de toda a comunidade islâmica. A luta deve ser contínua e deve durar até o final dos tempos”. Essa interpretação enseja que a paz entre os infiéis e os muçulmanos seja um ideal inatingível, pela própria essência da interpretação da lei islâmica. A Jihad, em essência, na interpretação dos radicais, é uma luta contra a cruzada cristã-judaica. Filosófica, física e espiritualmente, a Jihad pode ser entendida como um movimento de heroísmo místico dentro da própria ideologia islâmica, fato que assegura a força da fé para criar e ratificar uma sociedade devotada a Deus. Se por um lado, os guerreiros da Jihad, armados com a espada de Deus, acreditam que lutam contra infiéis; por outro, o mundo ocidental crê que a sanha odiosa dos seguidores de Alah tenha origem no próprio complexo de inferioridade coletiva e social. A guerra santa, no entendimento de muitos, é uma reação rancorosa ao desenvolvimento e ao progresso coletivo, particularmente o econômico, jurídico e militar, experimentado pelo ocidente. De acordo com as fontes de estudo clássicas e especializadas no movimento muçulmano, existem , hoje, quatro posições ideológicas dentro do próprio islamismo: a fundamentalista, a modernista, a a tradicionalista e sectarista. Na verdade os “mujahedins”, veteranos da guerra contra a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), forneceram os primeiros efetivos à Al Qaeda. O incentivo era prosseguir na luta santa fora do território afegão. As vitórias do Taliban garantiram santuários para o treinamento e para o aperfeiçoamento de guerrilheiros. Ao ultrapassar as fronteiras físicas dos países do Oriente Médio, a Al Qaeda tornou-se a bandeira de muitos cidadãos locais, constituindo-se na animação perfeita da ideologia do islã, que apoiada pelo Pasquitão, foi capaz de elevar o número de recrutamentos, influenciando simpatizantes e cidadãos até então considerados neutros. Enfim, a Al Qaeda transfigurou-se na resposta às frustrações, às humilhações e às derrotas sócio-políticas experimentas pela coletividade muçulmana nos séculos XIX e XX. Com habilidade incomum a Al Qaeda explorou a invasão do Iraque como mais um fator que caracterizava os interesses opressivos dos Estados Unidos. As tropas norte-americanas não estavam lá somente para liberar o povo iraquiano, mas sim para ocupar o território e explorar o país, segundo a visão radical do grupo islâmico. As diferenças políticas aumentaram a distância para que a paz local fosse alcançada. O conflito de interesses conduziu à instalação de um movimento subterrâneo que sustenta o esforço de guerras dos combatentes mujahedins. |
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“A Guerra de Guerrilha não depende de grandes operações, de sofisticada matéria, de organizações e estruturas complexas, de meios eletrônicos sofisticados, de computadores e redes de informática para alcançar o sucesso. O elemento básico da guerra de guerrilha é o homem, e ele é o mais complexo de todos os outros meios e máquinas. Ele é dotado de inteligência, emoção e, principalmente, de vontade.” (Samuel B. Griffith II, Guerra de Guerrilha, Introdução a Mao Tse-Tung) |
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O conflito insurrecional incorpora componentes assimétricas de diversas dimensões e intensidades. A vontade dos combatentes envolvidos, sua motivação para o combate, o suporte emocional recebido em função da causa da guerra e a própria convicção e predisposição ao combate constituem-se em fatores essenciais que podem determinar o êxito ou o fracasso do confronto. Os exércitos regulares não suportam o peso de numerosas perdas em combate. Já era assim no tempo em que os romanos tinham que se digladiar com os bárbaros. Agora, em meio à revolução tecnológica e das comunicações, esse sentimento se exacerbou. Tropas treinadas sempre foram caras e de difícil reposição. Uma Nação estruturada não está apta a aceitar perdas de combate em excesso, particularmente em guerras periféricas, que não ameaçam sua própria existência. A aceitação de baixas nesses conflitos pode ser temporária, mas não indefinida, permanente. Isso constitui o ponto fraco da vontade nacional quando submetida a guerras insurrecionais periféricas, localizadas longe de suas fronteiras físicas e sociais. Os conflitos assimétricos incorporam essa marcante contradição. Tal fato foi evidente na pergunta frequentemente lançada durante a Guerra do Vietnã: “Como você pretende vencer inimigos que não se intimidam em combater helicópteros com arcos e flechas?” No conflito vietnamita os combatentes locais, mesmo sofrendo enormes baixas, não as valorizavam e continuavam a aceitá-las em grande número a fim de perseguir sua orientação estratégica que era expulsar as tropas norte-americanas da Indochina. Por isso, como evidente na citação de Mao Tse-Tung, somente a superioridade material e tecnológica não é capaz de garantir a vitória. Em algumas circunstâncias, essa superioridade pode se tornar uma armadilha. Nenhuma inovação tecnológica ou bélica, entretanto, é capaz de subordinar a vontade de um povo que deseja se tornar independente e de buscar seu próprio caminho. O movimento rebelde, seguindo sua orientação estratégica, pode provocar uma escalada do conflito, o que nem sempre é vantajoso. Os custos necessariamente irão aumentar, seja em vidas, seja em equipamentos, impondo um elevado desgaste para ambas as partes. No entanto, ao longo do tempo, os custos em vidas serão insurportáveis para a potência que procura estabilizar a área de conflito. A guerra além-fronteiras, que não repercute na segurança interna, dificilmente é capaz de contagiar a opinião pública em sua totalidade. Por isso, com essa visão, os próprios militantes islâmicos não estimulam ataques ao território continental norte-americano, uma vez que visam dissociar a vontade pública da vontade governamental em relação aos objetivos de guerra traçados. Essa tática cria um dilema para a população que passa a se perguntar sobre a validade das mortes de jovens americanos e dos recursos orçamentários empregados no conflito, uma vez que eles não são indicativos de que a segurança interna tenha sido aumentada. Essa mensagem é sentida pelo povo americano, em função das táticas adotas pelos insurgentes e pela mídia contrária aos movimentos intervencionistas. Com tal raciocínio, não somente a população civil é afetada, mas também as tropas, por receberem influência direta da opinião pública. O sentimento do povo reverbera na alma do combatente, impactando sua vontade de lutar, de vencer e de acreditar em uma causa nacional. Com isso, a máxima de Mao Tse-Tung passa a ter validade: “se a potência inimiga tiver a vontade de lutar afetada, então sua capacidade militar, sem interessar quão grande seja, passa a ser irrelevante”. O fato determinante é que: grandes potências não suportam pesadas baixas em conflitos de baixa intensidade. Além da experiência do Vietnã, pode-se citar os fatos ocorridos em Mogadishu, onde 18 militares norte-americanos perderam a vida, contra aproximadamente 312 somalis . Algumas estatísticas, entretanto, apontam que no total 30 militares estadunidenses foram mortos, enquanto que o oponente contabilizou perdas de 1000 a 3000 somalis. Mesmo assim, passados alguns dias dos fatídico combate, embora o número de baixas tenha sido extremamente favorável para às forças de estabilização, as tropas norte-americanas se retiraram da Somália, sob efeito de grande pressão popular. O mito conhecido como “perda zero” caiu por terra durante as operações em território africano, repercutindo no planejamento e na execução de futuras operações militares. Com isso, a posição norte-americana em relação às operações de paz sob a tutela das Nações Unidas foi reavaliada. O governo do Presidente Clinton (“President Decision Directive 25”) concluiu que nem sempre operações militares com caráter de intervenção se constituem na melhor resposta para ações humanitárias, embora, em determinados casos, sejam adequadas, especialmente em situações em que o risco seja mínimo, fato confirmado pela participação norte-americana na operação em Kosovo. As guerras da Coréia e do Vietnã pressionaram a Casa Branca e o Pentágono na busca de soluções bélicas que reduzissem as baixas em combate, particularmente nos escalões mais baixos da força terrestre. O aumento da confiança nos ataques de precisão, na aviação e na mobilidade alteraram a maneira de combater das forças norte-americanas. As vitórias curtas e decisivas nas operações no Panamá e no Golfo, mercê da incorporação de avançado armamento, contribuíram para o surgimento do “motto” no Pentágono de que a Força Decisiva seria capaz de vencer batalhas com o mínimo de perdas, em curtíssimo espaço de tempo. Entretanto, com o revés de Mogadiscio, o Pentágono voltou a questionar o aspecto “perdas em combate”, sem valorizar sobremodo a idéia de que baixas eram inaceitáveis. Essa percepção proporcionou às lideranças civis e militares tempo para se anteciparem aos revezes impostos pelos inimigos nos campos do atrito tático e psicossocial. Após a Guerra Franco-Prussiana, no século XIX, as potências passam a apresentar visões muito homogêneas em relação ao emprego e à estrutura de suas forças militares. A racionalidade bélica de Clausewitz, desde então, consolida uma linha de pensamento bélico que caracteriza o emprego de forças convencionais. Não obstante, é possível identificar o pensamento Jominiano, que faz diferir a esfera militar da componente eminentemente política. Cria-se o impasse que muitas vezes colabora para dissociar a política e a componente militar, dificultando a sua integração. Fomenta-se, assim, uma assimetria de pensamento que vai desembocar diretamente na natural inadequabilidade das estruturas dos exércitos convencionais para se engajar em uma guerra insurrecional, em um ambiente complexo. Os exércitos convencionais, treinados e equipados segundo a escola de Westphalia, mostraram-se inadequados para enfrentar os desafios impostos pela guerrilha insurrecional. A volatilidade dos inimigos, o caráter difuso das ameaças e o complexo ambiente operacional ensejaram a necessidade de adaptações de toda ordem de modo a tornar as forças tradicionais aptas ao combate assimétrico. As forças soviéticas identificaram a necessidade de realizar adaptações à doutrina corrente logo após sua investida contra os rebeldes afegãos. O Exército Soviético que invadiu o Afeganistão não era uma força treinada para conduzir operações contra uma força de guerrilha. Ele era apto para combater em conflitos convencionais de grande intensidade – a guerra idealizada para ser combatida contra as potências ocidentais. A guerra concebida pela dissuasão nuclear em um mundo bipolarizado. Nesse combate, as linhas de ação do pensamento estratégico-tático dos soviéticos eram:
Embora a liderança soviética tenha optado pela invasão do território afegão, as tropas terrestres não estavam aptas a operar naquele tipo de terreno, contra aquele tipo de inimigo. O combate convencional proposto pelos russos não foi eficaz, o que frustrou a eficácia das primeiras operações. Constatou-se, de início, que não havia frentes fixas no combate. Tampouco havia retaguarda ou limites laterais. Não existiam linhas definidas no terreno nas quais os blindados poderiam penetrar, visando cercar ou isolar o inimigo, a fim de sufocá-lo com o bloqueio de sua artéria logística, conduzindo-o ao colapso operacional e à derrota. De fato, as forças de ocupação não identificaram um oponente apto a engajar-se em uma luta convencional aberta e franca, como os combates visualizados nos planejamentos dos exércitos que tiveram origem na “Pax de Westphalia”. Os soviéticos enfrentaram um combate heterodoxo, tenaz, contra um inimigo aguerrido, difuso na imensidão de um território inóspito. Em consequência, a vitória rápida a baixo custo perdeu-se na ilusão das areias quentes do solo afegão. As táticas outrora empregadas na invasão da Checoslováquia foram revividas por ocasião da investida contra o território afegão. Curiosamente, o comandante das tropas russas naquela oportunidade em 1968, General Pavlosky, era o comandante das forças que invadiram o Afganistão. A tática utilizada pelos soviéticos contemplava o lançamento massivo de ataques mecanizados e blindados, organizados no nível divisionário pela “Motorized Riffle Division” (Divisão Motorizada), até meados de 1982. Aproximadamente duas vezes por ano, ataques convencionais, inicialmente ensaiados para combater tropas da OTAN no teatro europeu, eram lançados contra o território afegão. Fruto da ineficiência das ações militares e das investidas no território dominado pelos “mujahedins”, os soviéticos alteraram suas táticas e adaptaram seu equipamento em meados de 1982. Nesse período, o emprego de helicópteros foi incrementado. O MI 24- Hind passou a comandar as ações militares contra os insurretos. Além do emprego de helicópteros, os russos também utilizaram de outros modernos equipamentos, como o caça bombardeiro SU-25. A manobra soviética, constituía-se de um massivo bombardeio, seguido de um envolvimento aeromóvel e um ataque mecanizado terrestre simultâneo ao movimento aéreo. Alguns críticos ocidentais, costumam afirmar que se os soviéticos tivessem estudado e aprendido sobre a experiência norte-americana na Indochina, eles teriam verificado que a tecnologia de ponta e o armamento no estado da arte não são suficientes a ponto de evitar a condução do combate convencional, no qual o acervo tecnológico tende a perder importância decisiva, nivelando os militares-combatentes com insurretos. A força excessiva dos ataque e a destruição imposta pelas ações ofensivas de grande intensidade não contribuíram em nada para conquistar os corações e as mentes dos habitantes locais – condições essenciais para vencer uma insurgência em território inimigo. Na verdade, a estratégia soviética no Afeganistão assemelhou-se em muito a utilizada pelas forças norte-americanas no Vietnã. Via de regra, os países responsáveis pela estabilização de determinada área são conduzidos ao uso excessivo da força contra um inimigo volátil, insurrecional, na maioria das vezes apoiado pela população. O uso do martelo indiscriminadamente, pode não surtir o mesmo efeito que o emprego de uma chave-de-fenda no local e no momento necessários. Em conseqüência, o remédio administrado à força, não raro, tem efeito contrário e, ao invés de a rebelião arrefecer, ela recebe um espontâneo e contundente reforço. Do ponto de vista norte-americano, as insurreições permanecem sendo um desafio, uma vez que há dois séculos os Estado Unidos preparam suas forças armadas para conflitos de grande intensidade, com a roupagem convencional. Contudo, após a contundente vitória do Golfo, é impensável que exista alguém ou algum exército que se voluntarie e assuma a opção de enfrentar o poderio militar americano em um conflito convencional. Os Estados Unidos desde sua origem, quando enfrentaram, na região onde hoje está localizado o estado da Flórida, os Seminoles , sempre demonstraram preferência pela maneira convencional de fazer guerra. No entanto, é chegado o momento de preparar-se, técnica, operativa e doutrinariamente para enfrentar um inimigo que não vai se submeter a um embate tradicional. Por analogia, pode-se antever que essa tendência irá repercutir em vários exércitos. Estará na liderança quem primeiro aceitar essas modificações, sem esquecer, logicamente da base de conhecimento que até o presente está consolidada. Essa base, torna-se fundamental para que os estágios evolutivos possam ser alcançados. O autor Sam Sarkesian cita em seu livro intitulado “The Myth os US Capability in Unconventional Conflicts” que os esforços feitos pelo exército norte-americano para introduzir uma doutrina contra a guerra irregular não passam de adaptações da doutrina convencional, carecendo de originalidade e de flexibilidade necessárias para se contraporem à proposta explorada pelos movimentos revolucionários. Com isso, pode-se reforçar a idéia de que a luta contra a insurreição deve procurar ser autóctone, não possibilitando sucesso a soluções importadas. Com o sucesso norte-americano no Golfo foi criado um grande anacronismo. O Exército Norte-Americano assenhoreando-se do teatro de operações ratificou a previsão de que muito dificilmente será derrotado em um conflito tradicional. Contudo, dificilmente ele terá que combater outro exército de modo convencional, pois os opositores não lhe oferecerão tal oportunidade e negar-se-ão ao combate franco, aberto, direto, sob pena de se autodestruírem. Verifica-se que estando eficazmente preparado para o combate convencional como nunca outro exército esteve, o exército americano está cada vez mais longe de ser empregado nos moldes tradicionais previstos por esse tipo de combate. No tempo em que essas mudanças de postura estratégica acabam permeando conceitos doutrinários seculares, formados com base nos ensinamentos de Clausewitz, assiste-se, gradativamente, que os exércitos mais modernos começam orientar suas pesquisas no sentido de encontrar respostas de como melhor subjugar movimentos insurrecionais. Cada vez mais os militares profissionais são desafiados a não serem apenas especialistas sobre táticas de guerra. Igualmente, os políticos e os estrategistas são desafiados a não só simplesmente derrotar os adversários. Há que se prever o impacto material e psicológico que as ações militares causam sobre a população de maneira geral. Mais e mais, os envolvidos são responsáveis pela recuperação das condições de vida de uma comunidade afetada pelo flagelo da guerra, pela reconstrução de seus valores, sem chocá-los com soluções importadas desajustadas à tradição local. Cada vez mais, os homens encarregados de melhorar as condições de vida dessas populações são responsáveis por devolver-lhes esperança e alegria de viver em um mundo melhor, mais justo, sem ódio e sem medo. Cada vez mais, os exércitos terão de aprender que a guerra convencional, sua doutrina e seu treinamento não se ajustam às demandas enfrentadas pelos conflitos assimétricos por excelência. Assim, com esse enfoque, pode-se afirmar que as forças armadas encontram-se sob efeito pendular e paradoxal: Preparar-se para conflitos assimétricos ou permanecer preparando-se para a remota possibilidade de uma guerra convencional. A decisão, seja ela qual for, requer coragem, sabedoria, estudo e, principalmente, adequação de conceitos que rompam, em tese, com o sistema em vigor. Em síntese, uma verdade, porém, condiciona o planejamento estratégico de qualquer Nação que pretende ocupar destaque no concerto internacional, sendo representado pelo perpétuo axioma: “SI VIS PACEM PARA BELLUM”.
Cel Cav Fábio Benvenutti Castro Ex-Comandante do CIAvEx |
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