O CIAvEx nas alturas – Travessia da Serra Fina
Nos dias 20 e 21 de maio de 2019, o CIAvEx esteve representado por dois militares do corpo permanente, na famosa travessia da Serra Fina. Localizada na exuberante Serra da Mantiqueira, entre Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, a Serra Fina abriga algumas das mais importantes cadeias de montanhas do país, famosas especialmente por causa da dificuldade para atravessá-las.
O nome “Serra Fina” é uma referência à largura estreita de seus caminhos que, em alguns pontos, não passam de um metro. O que faz a travessia de Serra Fina ser considerada a “mais difícil do Brasil” é o desnível: a região apresenta os maiores desníveis topográficos de todo o país, sempre acima dos 2.000 metros de altura. Além disso, a região abriga a famosa Pedra da Mina, um dos 100 pontos mais inóspitos do mundo, segundo a National Geographic, e o 4º ponto mais alto do território brasileiro.
Por muito tempo, o Pico das Agulhas Negras, no Parque Nacional de Itatiaia, foi tido como o 4º ponto mais alto do país, porém, de acordo com o anuário estatístico do IBGE – 2011, oriundo do projeto Pontos Culminante, a Pedra da Mina, agora figura como o 4º, tendo 2.798 m, 7 metros a mais que o Pico das Agulhas Negras.
Os perigos da Serra Fina cobram caro dos visitantes despreparados. Em média cinco resgates de aventureiros são feitos anualmente pelos bombeiros dos três estados, de acordo com José Augusto Nunes, de 50 anos, um dos mais experientes guias locais, que é guardião dos livros de registro de quem atinge os picos e auxilia as corporações a localizar quem se perde. “Muitas pessoas não vão preparadas para as trilhas. Os nevoeiros confundem a navegação e o frio, a falta de água e de equipamentos também pesam”, considera. Nos arredores da formação, pelo menos duas pessoas morreram recentemente praticando montanhismo, também na Mantiqueira. Uma delas foi o maratonista de altitude francês Gilbert Eric Welterlin, de 53, encontrado morto por hipotermia em 5 de maio de 2018, depois de 20 dias perdido no Pico dos Marins, a 20 quilômetros de distância.
Separadas por 33 quilômetros, as extremidades da Serra Fina eram acessos usados por séculos no desbravamento e desenvolvimento do Brasil. A Garganta do Embaú (MG/SP) permitia a passagem dos paulistas pela Serra da Mantiqueira até a região das minas, nos séculos 17 e 18, enquanto a Garganta do Registro (MG/RJ) se tornou, no século 19, um dos caminhos dessa região até o Rio de Janeiro.
A primeira exploração da região foi documentada em 1955. Quatro imigrantes alemães que eram alpinistas, chamados Henning Bobrik, Gunther Engels, Felix Bernhard Hacker e Theodor Reimar Hacker, avistaram o pico da Pedra da Mina a partir do Parque Nacional de Itatiaia e decidiram conquistar aquele cume. Numa das propriedades rurais mineiras encontraram o fazendeiro José Dias, que integrou a expedição com outros três mateiros – José Vidal, Geraldo Américo e Sebastião Pedro. Depois de quatro dias, conseguiram atingir o pico, levando outros quatro dias para regressar.
O desafio do CIAvEx começou quando dois apaixonados por corrida de orientação, TC Fausto e Sgt Osvaldo, estavam conversando sobre andar de motocicletas e correr pelas trilhas da região. Foi então que surgiu o objetivo de realizar a travessia da Serra Fina.
Normalmente a travessia é feita em 4 dias, mas é possível fazer em 3 se apertar bem mais o passo. A dupla decidiu apertar ainda mais o passo e fazer em 2 dias, com o pernoite na Pedra da Mina. Claro que tem gente que faz em até um dia, mas ai é outra coisa, são atletas de “trail running”.
A preparação foi longa, incluindo desde conseguir o “trackolg” para o GPS, mapa topográfico atualizado, estudo e acompanhamento da meteorologia, condicionamento físico e psicológico.
O fator primordial para a decisão da data da travessia foi a previsão meteorológica, que foi seguida por muitos dias em dois “sites” bastante confiáveis, https://www.windguru.cz e https://www.moubtain-forecast.com, que foram recomendados pelos guias da região da Mantiqueira.
O local escolhido para hospedagem foi na Pousada e Hostel Caminho dos Ventos (https://pousadacaminhodosventos.com), em Passa Quatro/MG, que atendeu todas as necessidades de estadia e estacionamento para as motos, inclusive no período em que estavam na Serra Fina. Os diferenciais do proprietário, Sr Sergio, foram a hospitalidade e ter o capricho de aguardar o retorno de ambos com uma porção de queijo mineiro com tomate cereja e a tradicional cachaça da região.
O translado para o início oficial da trilha, na Toca do Lobo, e o resgate no final, sitio do Pierre, ficou por conta da Sra Patrícia, que realiza o transporte para trilhas e cachoeiras. Ela começou o transporte as 5h no hostel com seu 4x4, e por volta das 5:40h já estavam desembarcando, após 8 km de estrada de chão, próximo a ponto oficial de início da travessia. No resgate, no dia seguinte por volta das 17h, ela ainda surpreendeu a dupla com o um pastel de queijo e guaraná Cibal, famosos na cidade de Passa Quatro.
Para conhecer um pouco mais, recomenda-se a matéria feita pela equipe de reportagem do Globo Repórter sobre a travessia acessando https://youtu.be/DgAB39_Plxk, que partiu da mesma pousada.
Após esses dois dias de navegação constante, frio intenso e esforço físico, a dupla recomenda que:
- tenha sempre um desafio em mente, pois sem ele a vida perde a graça;
- nunca faça algo arriscado sozinho, pode ser fatal;
- realize seus desejos enquanto tiver saúde; e
- sempre esteja preparado.
“Per audacian ad protectionem!”
Aviação!
Fausto A C Dóro – TC
Osvaldo Apipe – 1º Sgt
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